A vida da produtora rural Maria Josefa Machado Neves, de 50 anos, jamais foi a mesma depois que ela se juntou à Associação de Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas (AMPPF), em São Félix do Xingu. Afirma que antes disso, ela mexia com gado e plantava cacau na sua terra de 1,5 alqueire. Até que veio um incêndio e levou toda a produção embora. “Meu esposo quase perdeu a cabeça, e quis vender a terra”, lembra ela.Tudo mudou quando ela foi convidada a participar de uma reunião com o pessoal da AMPPF, em 2017. “Saí de lá como vice-tesoureira da associação. Desde então, mudei os planos e passamos a investir no plantio de fruteira”, acrescenta Maria Josefa, hoje presidente da entidade.
Em seu quintal, maior que o anterior, hoje ela conta com 70 pés de acerola, 100 de caju e 50 de goiaba. “Hoje entra bem mais dinheiro”, comemora. A temporada de cacau se encerrou recentemente e, agora, ela aguarda a colheita do caju e do açaí, mais para agosto.
“Eu moro no meio da floresta, dos cacaus e das plantas. Não tem que carregar muito peso. Contamos com todos os equipamentos, como despolpadeira, liquidificador industrial e freezers. Tudo sai daqui embaladinho com nosso nome para venda direta, sem atravessadores”, detalha ela sobre a marca Delícias do Quintal.
Maria Josefa diz ter tanto orgulho do que faz que conseguiu levar a mulherada toda da família para trabalhar na associação. Na temporada de colher as frutas, a faena começa bem cedinho e só termina à noite. Segundo ela, os maridos são grandes parceiros.
Essa mudança radical na vida de Maria Josefa foi possível graças ao programa “Florestas de Valor”, desenvolvido pelo Imaflora, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e financiamento do iCS, do Governo do Canadá, do BNDES e da Humanize.
Para se ter uma ideia da reviravolta na vida dessas associadas, em 2018, cada família comercializou 500 kg de polpa e recebeu cerca de R$ 8 mil. Já em 2019, o montante alcançado pelas 16 famílias produtoras chegou a cerca de R$ 140 mil, com a comercialização de 9.724 kg. Ano passado, o trabalho ficou em marcha lenta por causa da pandemia, mas vai sendo retomado pouco a pouco.
Celma Gomes de Oliveira, Analista Administrativa de Projetos do Imaflora, afirma que houve um salto “muito grande nessa questão de equidade de gênero”. A AMPPF tem hoje 30 mulheres associadas e 5 homens, mas a diretoria é toda feminina.
“Avançamos na gestão, comercialização, produção e na discussão de gênero. No inicio, elas falavam que iam ser protagonistas, mas só quando já não tivessem mais na companhia de marido e filhos. Agora, conseguem ver a propriedade como empreendimento delas”, afirma Celma.
O projeto é executado em áreas com sistemas agroflorestais (Safs), que regeneraram áreas degradadas do bioma amazônico e recuperaram a fertilidade do solo.
A AMPPF, que tomou corpo jurídico em 2012, foi gestada pela Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu (Adafax), que produziu um levantamento de mercado, potencial comercial, preferência de sabores e cotação de valores para a produção de polpas. A partir dessa avaliação, foi mapeada uma política pública de incentivo à produção local: o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O PNAE determina que, no mínimo, 30% dos itens da merenda escolar local sejam adquiridos de agricultores familiares, o que gera uma demanda fixa de diversos gêneros alimentícios, incluindo a polpa de fruta.
Pará em frutas
– É maior produtor nacional de açaí, com um volume anual de 1.320.150 toneladas de frutos e área plantada (Açaí de Terra Firme + Açaí manejado em várzeas) superior a 188 mil hectares.
– É o maior produtor nacional de cacau, sendo Medicilândia responsável por 35% da produção estadual.
– É o maior produtor de abacaxi no país, sendo Floresta do Araguaia responsável por cerca de 75% da produção estadual.
– É o maior produtor de dendê (cacho de coco), sendo Tailândia responsável por 37% da produção estadual e, Tomé-Açu, 21%.
– É o segundo maior produtor de limão do país, atrás de São Paulo, sendo Capitão Poço e Monte Alegre responsáveis por 80% da produção estadual.
– É o terceiro maior produtor de coco da baía, sendo Moju responsável por quase metade de produção.
– É o sétimo produtor de mamão do país, sendo Parauapebas e Santo Antônio do Tauá responsáveis por 40% da produção estadual.
– É o oitavo maior produtor de cacho de banana do país, sendo Medicilândia responsável por 17% da produção estadual.
– É o décimo produtor de maracujá do país, sendo Igarapé-Açu responsável por 20% da produção estadual.
Fonte dos números: Sedap/2019