Descobrir os mistérios que mantêm a imensidão de verde que cobre a Amazônia mesmo durante os períodos de secas intensas foi o que motivou a pesquisadora Deliane Penha a enfrentar o antigo medo de altura. Hoje, ela escala com tranquilidade e muita técnica árvores de mais de 30 metros de altura de onde colhe informações que ajudam a entender como a floresta resiste a extremos climáticos.
Graduada em ciências biológicas, mestre em recursos naturais da Amazônia e doutora em sociedade, natureza e desenvolvimento, a paraense Deliane Penha nasceu no município de Óbidos, tem 39 anos e se dedica a estudar as características de mortalidade das plantas. Em tempos de mudanças climáticas, a resposta para a questão é ainda mais importante, já que ajuda a saber mais sobre o comportamento da floresta em momentos críticos.
A estratégia de pesquisa nas alturas é necessária para confrontar as hipóteses sugeridas pelos dados de satélites e modelos matemáticos. De acordo com esses modelos, durante a seca, as árvores limitam a perda de água pelas folhas, captando mais carbono para se manter hidratadas.
Porém, Deliane mostrou que há diversos fatores relacionados à interação das árvores com o ar, a mata e o solo que influenciam na resistência ou vulnerabilidade delas. Além disso, um estudo assinado por ela e colegas revela que o tamanho das árvores também é determinante para saber quais plantas são mais afetadas.

Espécies mais altas como o cambará ou quarubarana (Erisma uncinatum) e as outras árvores altas, que formam o chamado dossel, conseguem se manter verdes e hidratadas por causa de suas raízes que chegam a até sete metros de profundidade. Dessa forma, elas alcançam reservatórios de água e mantêm a vitalidade mesmo quando a superfície está seca.
“As árvores percebem o calor e se regulam. É como se pensassem ‘nossa está muito quente aqui em cima, não podemos perder água’. Elas então fecham seus poros, os estômatos, que ficam na folha e são a principal via de trocas gasosas entre a planta e o ambiente, como a de CO2 e a saída de água”, explicou Deliane em entrevista a O Globo.
Já as árvores do dossel intermediário, que chegam a 20 metros de altura, conseguem se manter vivas devido à proteção do sol e do vento que recebem das árvores maiores. É o que ocorre, por exemplo, o breu-branco (Protium apiculatum), cuja essência é usada em produtos medicinais e rituais religiosos.
Árvoress menores sofrem mais
As mais afetadas são espécies de menor porte, como é o caso da canela-de-jacamim (Rinorea pubiflora), que normalmente não passa da altura do telhado de uma casa. Segundo a pesquisadora, embora essas árvores tenham menor contato com o sol e o vento, elas dependem da água superficial, vinda da chuva. Na estação seca, quando diminui a frequência de chuvas, elas sofrem mais porque também não conseguem acessar reservatórios profundos.
“É preciso entender como a floresta funciona e o papel dela na manutenção do clima. O que destrói a floresta é o desmatamento, as queimadas. Contra isso a floresta não tem proteção”, ressalta Deliane, que atualmente coordena o projeto Niaras do Tapajós.
A iniciativa atua na área da divulgação científica e promove também discussões sobre dificuldades no meio acadêmico, principalmente relacionadas à saúde mental, oferecendo apoio para estudantes da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Para conhecer mais do trabalho, clique aqui.