Em Brasil Novo, na região do Rio Xingu, a economia pulsa ao ritmo do cacau. Com mais de 14 mil hectares plantados e uma produção que supera as 10 mil toneladas por ano, o município é o lar de mais de 1.400 produtores dedicados a essa cultura. Agora, muitos deles estão dando um passo adiante, transformando as amêndoas em chocolate fino e agregando valor à produção local.
Isso porque Agência de Defesa Agropecuária do Pará (ADEPARÁ) e instituições parceiras têm orientado produtores a começaram a verticalizar a produção, investindo na implementação de pequenas fábricas de chocolate que funcionam nas propriedades onde se planta cacau. A iniciativa não só gera mais renda para as famílias, mas também fortalece a cadeia produtiva sustentável local,
“Nós somos o maior produtor de cacau e de cacau de qualidade e nós precisamos parar só de vender amêndoas, nós precisamos verticalizar, ganhar dinheiro com o cacau e a verticalização traz isso”, afirma Jiovana Lunelli, proprietária da Cacau Xingu, de Brasil Novo.
A Cacau Xingu, cuja produção é em sistemas agroflorestais, foi o primeiro registro artesanal emitido pela ADEPARÁ para uma fábrica de chocolate no estado. O selo é fundamentado na Portaria 5094/2024, que estabelece rigorosas normas de qualidade, desde a matéria-prima e os processos de fabricação até a rotulagem e a segurança alimentar.
Para se transformar na Cacau Xingu, a fábrida de Jiovana foi adaptada em parceria com instituições como o Sebrae (pelo programa Sustenta Inova), o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e a própria ADEPARÁ De acordo com Jiovana, o trabalho exercido pela Adepará e demais parceiros valorizam o trabalho do pequen produtor e isso contribui também para melhorar toda uma região.
A marca Cacau Xingu não é só um chocolate, aqui tem história de agricultores familiares, de resistência e de luta de toda uma região, que recebeu diversas famílias que foram desafiadas a implantar uma lavoura na Amazônia. Não é um conceito, é uma ideia de sustentabilidade”, afirma a produtora.
Selo é diferencial

A produtora Iradi Frutuoso é outro exemplo dessa boa fase da produção de cacau na cidade. Em sua propriedade, a dedicação à qualidade é visível em cada etapa, com a Frutuoso Chcolate seguindo rigorosos padrões de higiene e boas práticas de fabricação.
“Todo cuidado que temos é para a saúde de quem vai consumir nosso chocolate. A nossa preocupação é fazer um produto seguro e de qualidade para nossos clientes, processado em um lugar que possui higiene e que foi inspecionado”, afirma a chocolateira, destacando o compromisso com a segurança do consumidor.
Embora o selo não seja obrigatório para o chocolate, ele é um diferencial competitivo crucial, agregando valor e atestando a qualidade de produtos feitos com amêndoas selecionadas, muitas vezes cultivadas em sistemas agroflorestais – onde o cacau convive com espécies nativas, beneficiando o solo e o meio ambiente, e elevando a qualidade do fruto.
Sabores amazônicos
Na fábrica da “Kakao Blumenn”, na zona rural de Brasil Novo, a produtora Verônica Preuss inova constantemente. Seus chocolates, feitos com amêndoas selecionadas do Sítio Santa Catarina (propriedade de sua família na região da Transamazônica), incorporam sabores amazônicos como jambu e cumaru. A loja exibe orgulhosamente diversos prêmios, inclusive internacionais. Verônica detalha as atividades da fábrica:
“Aqui temos cursos e treinamentos em chocolateria. Também recebemos grupos de visitantes porque realizamos turismo de base comunitária para quem vem conhecer a produção sustentável de chocolate na Amazônia. Durante o Festival Internacional do Cacau e Chocolate em Altamira, lançamos um novo sabor com morango e já estamos testando novos sabores para até o final do ano”, afirma Verônica
Chocolate em pó e mercado institucional
Além dos chocolates finos, a ADEPARÁ tem incentivado a produção de chocolate em pó para fornecer a prefeituras. Em Pacajá, na mesma região do Xingu, o casal de agricultores familiares Erilan e Thayse montou uma fábrica de chocolate em pó 100%. Com o selo da ADEPARÁ desde 2015, eles fornecem para a merenda escolar e, hoje, também para uma grande empresa de chocolate. Com recursos próprios e um faturamento superior a cem mil reais, a fábrica conquistou vários contratos ao longo dos anos.
“Nós trabalhamos vendendo esse produto para a merenda escolar. O selo é muito importante para comprovar a origem do nosso produto. As prefeituras só compram mediante a comprovação dessa origem. Por mais que o chocolate seja isento de registro, as prefeituras exigem isso”, explica Erilan Araújo, proprietário da agroindústria, destacando a importância da certificação para o mercado institucional.
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