As experiências diárias no campo e na cozinha, manipulando ingredientes conhecidos da cultura amazônica como o cupuaçu, jambu, açaí e bacaba, trouxeram à engenheira de alimentos Danielle Amaral, a ideia de unir duas paixões: insumos amazônicos e o mercado da beleza.
O resultado da mistura é a Tekhoá (lê-se têcoá), empresa que promete reinventar o conceito de beleza sustentável a partir de insumos e tecnologia diretamente da Amazônia. O carro-chefe é um balm multifuncional três em um: batom, blush e sombra, formulado com manteiga de cupuaçu e totalmente livre de plástico, conservantes agressivos e sensibilizantes.
“A ideia nasceu em 2023, dentro da cozinha da minha casa. Eu não tinha investimento, só uma ideia na cabeça e muita vontade de fazer diferente”, relembra a fundadora, destacando que anotou cada detalhe da fórmula de próprio punho.

A fase seguinte foi correr atrás de apoiadores para a ideia se tornar cada vez mais palpável. Ao todo, foram conquistados R$ 310 mil em editais voltados à bioeconomia, permitindo que ela criasse vínculos ainda mais profundos com seu propósito e com pessoas que sempre fizeram parte da sua jornada, desta vez como colaboradores.
Danielle conta que os insumos usados na fabricação dos produtos, que vão de argilas até óleos e manteigas de frutas e sementes locais, são de famílias das cidades de Santo Antônio do Tauá e Cametá, no nordeste paraense.
“Eu já atuava nessas comunidades desde o mestrado, quando trabalhei com cacau de várzea. Esses vínculos sempre existiram e quis trazê-los para dentro da empresa”, explica.
Aliança campo-floresta-ciência
A Tekhoá, que já carrega a ancestralidade no nome, acabou firmando uma aliança permanente entre conhecimentos científicos, ancestrais e comunitários.
Danielle lembra que fundou o projeto Sou Tekohá, como forma de levar conhecimento e formação complementar para as mulheres que trabalham com os insumos. Por meio de oficinas, elas aprendem a produzir cosméticos com seus próprios recursos, gerando renda, inclusão e empoderamento.
Além disso, a empresa também possui parcerias com a Universidade Federal do Pará (UFPA), Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá) e Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa), que atuam como facilitadores para levar essas oficinas para as comunidades. A iniciativa também contribui para a qualidade da formação de estudantes, tomando a atividade da empresa como campo colaborativo de tecnologia e mercado.
Os produtos têm um diferencial importante para fazer parte do mercado de clean beauty (beleza limpa): são 100% seguros para todos os públicos, inclusive crianças, gestantes, lactantes e idosos. Além dos balms coloridos, a marca também conta com um sérum facial regenerador e um primer efeito glow (produto que deve ser usado antes da maquiagem e/ou filtro solar, com efeito hidratante e iluminador).

Todos os produtos já possuem certificação da Anvisa e são vendidos no site oficial da marca, assim como também está em lojas físicas parceiras nas cidades de Belém e São Paulo.
“Tudo foi criado por mim: as fórmulas, as cores, os nomes, as embalagens em papel kraft… Quis trazer um olhar novo para a maquiagem com bioativos da Amazônia, algo que ninguém estava fazendo por aqui. É uma alegria imensa ver esse projeto começar a prosperar”, revela Danielle.
A fundadora também revelou um plano para o futuro: reinvestir parte da receita nas comunidades produtoras. Para ela, a ideia é levar o colorido dos produtos de beleza para a vida da comunidade, em forma de oportunidades.
“Todo mundo merece fazer planos para o futuro e sonhar com uma vida melhor. Algumas pessoas vão fazer isso usando os produtos, mas quero levar isso a elas (as produtoras) como uma possibilidade de reassumir o controle da própria vida, às vezes negligenciado pela urgência do cuidado diário com outras pessoas”, conta.


