O Pará, estado que se prepara para sediar a COP30, em novembro, desponta como líder nos investimentos sociais na Amazônia Legal. Um novo mapeamento realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) – principal voz do setor privado em soluções de descarbonização – revela que o estado atraiu 59% dos recursos alocados em 67 projetos de impacto positivo em 2023.
O levantamento, que analisou 113 projetos socioambientais executados por 19 empresas em 98 municípios da Amazônia Legal, mostrou 78% das iniciativas estão em apenas três estados: Pará (67 projetos, ou 46,5%), Amazonas (28 projetos, ou 19,4%) e Mato Grosso (17 projetos, ou 11,8%).
No Pará, o destaque vai para Altamira, que sedia o maior número de projetos (31), conduzidos por duas empresas. Já a capital, Belém, brilha pela diversidade, com oito projetos de seis empresas diferentes.
Foco em comunidades, lacunas no clima
A maior parte dos investimentos (56%) foca no fortalecimento de comunidades locais (21,5%), seguido por educação e capacitação (13%), proteção de direitos humanos (10,8%) e desenvolvimento econômico e negócios (10,8%).
Contudo, o estudo aponta lacunas importantes em áreas importantes. Temas como mitigação das mudanças climáticas (4,9%), cultura e economia criativa (4,5%) e saúde e bem-estar (1,8%) têm menor incidência. Categorias como cidades sustentáveis, esporte e lazer, e infraestrutura aparecem com apenas 0,4% dos registros cada. Essa baixa frequência sinaliza potenciais oportunidades de ampliação para futuras estratégias de investimento social, especialmente em pautas climáticas, de saúde pública e inovação urbana.
Exemplos de projetos por temática:
- Educação e Juventude: Iniciativas como “Escola de Mediação” (Petrobras) e “Juventude & Sustentabilidade” (Norte Energia), além do “Festival Psica” (Mercado Livre), são exemplos de como as empresas investem no futuro da região. Há grande potencial para sinergias em redes de apoio à juventude, formação cidadã e fortalecimento da produção cultural amazônica.
- Desenvolvimento Comunitário e Bioeconomia: Projetos como “JA – Negócios Sustentáveis” (Bradesco) e “Curuá” (Mercado Livre) promovem a bioeconomia. A Norte Energia, com “Belo Monte Empreende”, “Semear Saberes” e o “Plano de Atividades Produtivas Indígenas”, fortalece a geração de renda baseada em saberes tradicionais. Aqui, o fortalecimento conjunto de cadeias produtivas regionais é uma sinergia evidente.
- Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais: Projetos como “Plano Básico Ambiental Indígena” e “Sorriso Indígena” (Norte Energia e Odontoprev), e a parceria da Zurich com o “Projeto Origens Brasil”, visam proteger territórios, valorizar culturas e promover a rastreabilidade produtiva. Parcerias interempresariais podem aprofundar esses impactos.
- Meio Ambiente e Conservação: A Caixa Econômica Federal contribui com “Restauração do Corredor de Biodiversidade”, a Norte Energia com o “Programa de Educação Ambiental de Belo Monte”, e a Petrobras com “Mangues da Amazônia” e “Florestas de Valor”, focando na conservação de biomas e recuperação ambiental.
Potencial de cooperação e alinhamento com ODS
O estudo do CEBDS mostra que os 113 projetos de empresas na Amazônia Legal muitas vezes, atuam nas mesmas regiões ou com os mesmos temas (como educação, meio ambiente etc.).
Isso é uma boa notícia porque significa que há um enorme potencial para essas empresas trabalharem juntas. Em vez de cada uma fazer seu próprio projeto, elas podem unir forças, compartilhando recursos e conhecimentos. Isso torna o uso do dinheiro e dos esforços muito mais eficiente e permite que elas alcancem mais pessoas e lugares – é o que chamamos de “ampliação do alcance social”.
A pesquisa também revela que a maioria desses projetos (66%) é voluntária, ou seja, as empresas não são obrigadas a fazê-los. Isso cria uma grande oportunidade para que elas colaborem ainda mais entre si e com outros parceiros, como o governo local, universidades e ONGs. Essa cooperação é ainda mais importante em lugares onde o governo não consegue chegar com todas as suas políticas públicas.
Quando muitas empresas e organizações trabalham com públicos-alvo parecidos (por exemplo, jovens, comunidades indígenas, mulheres), fica mais fácil criar projetos em conjunto. Elas podem ter “agendas comuns” – objetivos que interessam a todos – e assim, as ações se tornam mais eficazes. A colaboração com prefeituras, escolas e associações comunitárias é chave para que esses projetos tenham o máximo de impacto.
Os projetos mapeados na Amazônia também estão fortemente ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, segundo o Cebeds. Os ODS são como um “plano de ação” global com 17 metas para tornar o mundo um lugar melhor até 2030, abordando desde a pobreza até o clima.