A Rota Turística Histórica Belém-Bragança, herança dos séculos XIX e XX, conecta 13 cidades, valorizando o legado da antiga Estrada de Ferro do Ciclo da Borracha. Uma das iniciativas que compõem o circuito é a Rota Amazônia Atlântica, que convida seus visitantes a conhecer de perto a arte e a história diretamente das mãos que transformam a tradição em futuro.
O roteiro atua como um ecossistema que une comunidades, produtores, artesãos e empreendedores em torno de um propósito: valorizar a sabedoria centenária, gerar renda local e preservar a floresta em pé.
“Não é só visitar, é se conectar com a origem das coisas”, conta Joelma Rodrigues, secretária-executiva da rota, artesã e fundadora da loja virtual Ipêporã, vitrine on-line dos produtos criados por artesãs da comunidade.
Joelma representa cinco iniciativas ligadas à Rota Amazônia Atlântica na ‘Varanda da Amazônia’, evento realizado no centro de Belém na semana do Círio de Nazaré, a maior procissão religiosa do mundo.

A artesã conta que a Rota optou por apresentar um recorte potente do que oferece aos visitantes: biojoias, cestas feitas à mão com fibras do guarumã (Ischinosiphon koern) feitas por mulheres da comunidade de Augusto Corrêa, além de licores e geleias produzidas pela premiada Fazenda Bacuri.
“Em junho, fomos premiados com o título de segunda melhor geleia do Brasil pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com os sabores bacuri e o cupuaçu com pimenta”, conta.
De forma alegre, Joelma afirma que a Fazenda Bacuri, localizada no caminho entre Bragança e Augusto Corrêa, é considerada um símbolo local da bioeconomia da floresta em pé. Com certificações orgânicas nacionais e internacionais, o espaço transforma frutas como açaí, bacuri, cupuaçu, jambo, entre outros, em produtos de alto valor agregado, respeitando os ciclos da natureza.

Uma rota, muitas vozes
Para Joelma, a força do projeto está na soma dos pequenos. Cada produto carrega uma história, parte de um movimento maior que articula turismo, economia criativa e impacto social. Tudo passa por uma curadoria e controle de qualidade local: das fibras às tinturas naturais usadas nas biojoias, passando pelo plantio das frutas que dão origem aos doces e bebidas, garantindo um rastreio ético e consistente da origem ao consumidor final.
Joelma conta que as visitas guiadas, que proporcionam a experiência completa, podem ser agendadas pelos perfis da Rota, Ipêporã ou Fazenda Bacuri nas redes sociais. Já para quem quer comprar os trabalhos produzidos por lá, mas possui menos tempo disponível, também pode procurar os parceiros como a Dona Nena Chocolates, na Ilha do Combu.
De malas prontas para a COP30
“Já estamos com tudo preparado para a COP30: produtos certificados, embalagens sustentáveis e design pensado para o mundo”, revela.
Joelma adianta que as produções da Rota terão espaço garantido na COP30 graças ao seu grande trunfo: a conexão. Ela diz que a iniciativa possui parcerias com Sebrae, Embrapa, Ministério do Turismo e governos municipais, que já garantiram a presença desses empreendimentos na Conferência, trazendo a possibilidade de ganhos ainda maiores para a comunidade.
“A visibilidade cresceu muito. Hoje somos reconhecidos nacionalmente, e o interesse por nossos produtos e pelo nosso modelo de produção sustentável só aumenta. Estamos indo do Peru ao Mato Grosso do Sul, passando por Rio e por São Paulo. É o Brasil redescobrindo a Amazônia pelo que ela tem de mais precioso: seu povo”, afirma Joelma.
Impacto real
Atualmente, mais de 250 famílias são beneficiadas pela Rota. Joelma explica que o número cresce a cada ano conforme novos empreendimentos aderem ao modelo. O sistema desenvolvido pelo grupo beneficia artesãos, agricultores, extrativistas, pequenos produtores e empreendedores que encontraram no turismo de experiência uma nova forma de gerar renda, com propósito e identidade.
Outro marco importante para a jornada de reconhecimento é a Rota Amazônia Atlântica ser finalista do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, que reconhece e impulsiona práticas inovadoras e responsáveis no turismo em todo o Brasil. Confiante e agradecida, Joelma frisa, mais uma vez, o princípio comunitário da iniciativa como diferencial. Os vencedores serão anunciados em uma cerimônia especial no mês de dezembro, na capital paraense.
“Somos mais que uma iniciativa turística, mas uma rede viva que transforma as riquezas da floresta em dignidade e futuro”, conclui.