Considerado o segundo alimento mais famoso do Pará pelo Google Trends, que monitora as buscas feitas pelos usuários, o jambu percorreu um caminho rumo ao estrelato na última década, embalado por pesquisas, hits virais e produtos inovadores.
Uma das empresas que contribuíram com o fenômeno é a AMZ Tropical, que combina inovação, identidade amazônica e produção sustentável no mercado de bebidas. Um dos principais produtos da marca é o gin de jambu, que utiliza a planta como ingrediente principal, mas que também é cuidadosamente balanceado com outros 13 elementos botânicos.
O empresário paraense Leandro Daher conta que a decisão de trabalhar com a planta surgiu da busca por um elemento que representasse a Amazônia de forma autêntica e tivesse potencial de mercado.
“O gin foi lançado em 2021, mas a pesquisa sobre ele aconteceu vários anos antes. Queríamos algo com identidade e potencial e o jambu preencheu todos os requisitos”, conta.
A bebida é produzida a partir das flores desidratadas do jambu, obtidas de agricultores familiares e iniciativas de base comunitária na Grande Belém e no nordeste paraense. Tradicionalmente, apenas as folhas do jambu eram usadas na culinária, e as flores eram descartadas ou tinham uso restrito em cachaças artesanais. Agora, este novo destino das flores cria uma nova fonte de renda para os produtores, aproveitando integralmente a hortaliça.
“As flores são mais concentradas do que as folhas, então o efeito da dormência na boca é ainda mais intenso. Quando as pesquisas feitas aqui no Pará comprovaram o potencial anti-inflamatório e anestésico, tivemos a certeza de que estávamos no lugar certo porque não era apenas um insumo exótico, curioso, mas algo com um potencial gigantesco”, explica.

A aposta que deu certo
Três anos após o lançamento, o gin de jambu conquistou o 2º lugar no prêmio World Gin Awards 2024, realizado na Inglaterra, com destaque na categoria ‘signature botanical’ (‘assinatura botânica’, numa tradução livre, mas que captura a marca registrada da bebida)
Naquele ano, o prêmio teve mais de mil empresas inscritas e seus critérios de avaliação são reconhecidamente rigorosos sobre a composição da fabricação da bebida destilada.
“Uma coisa é nós vermos potencial e fazer sucesso aqui. Outra coisa completamente diferente é esse nível de reconhecimento. Foi uma experiência incrível, que valoriza e incentiva ainda mais nosso trabalho, mas que também emociona por comprovar que deu certo investir nos nossos insumos e na nossa gente”, conta.
Após a alta aceitação no mercado local e nacional, o prêmio serviu como um empurrão para o gin de jambu chegar ao mercado internacional. Para isso, a AMZ possui uma importadora própria na Flórida, nos EUA.
“Nossa importadora é uma paraense que ganhou o produto de presente, gostou e vende desde o fim de 2024. Todo esse processo é a realização de um sonho e a COP30 comprovou isso. Somos um símbolo cultural por investir no jambu e é isso que queríamos desde o início: conquistar pela qualidade e por ser o que somos”, conta.
Avanço conjunto
Entre os próximos passos da AMZ estão: criar um modelo de franquias, ampliar a presença dos produtores em formações e experiência imersivas, assim como chegar aos mercados da China e da Índia. Para Daher, o sucesso e a expansão da marca trazem novos desafios, que podem ser vencidos em equipe.
“Na COP30 criamos a imersão para conhecer a história do gin, a criação da marca e de degustar drinques autorais. Mas queremos expandir esse momento e levar o cliente para conhecer as plantações, reforçando ainda mais o selo de origem do produto. Atualmente, estamos trabalhando nisso cuidadosamente para que o produtor também aproveite a experiência e se sinta confortável para falar mais sobre o seu trabalho, assim como viabilizar pelo menos duas rotas para ter uma parte da experiência na sede da AMZ e outra direto na plantação”, explica.
Daher afirma que a bioeconomia é a principal forma de preservar o meio ambiente e gerar renda para as comunidades extrativistas, os agricultores familiares e povos tradicionais. A união entre pesquisa, indústria, comércio e políticas públicas pode gerar um novo momento no mercado e no meio ambiente.
‘É a bioeconomia que vai salvar a floresta. Valorizando o que vem dela e de pequenos roçados, valorizamos as pessoas. Com a pesquisa descobrindo o potencial dos insumos, aumenta a curiosidade do mercado nacional e internacional sobre eles. Já a indústria e os empreendimentos reúnem tudo isso em produtos que simbolizam nossa identidade. Eu ainda não sei se existe uma rota melhor do que essa para as coisas darem certo, mas tenho toda certeza que é a bioeconomia a protagonista para manter a floresta em pé porque ela gera renda justa, valorização das comunidades tradicionais e produtos com muito valor agregado”, diz.


