A proximidade da COP30 aumenta o interesse e a curiosidade de brasileiros e estrangeiros na produção local, especialmente nos ‘frutos’ da bioeconomia, gerando oportunidades para cooperativas que trabalham com agroextrativismo, artesanato e turismo comunitário. As informações são do Globo Rural.
Essa é a realidade da Comunidade do Anã, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Para chegar lá, é necessário fazer uma travessia de barco de 2 horas e meia entre Alter do Chão, distrito de Santarém, até a comunidade.
No vilarejo é possível conhecer a atuação da Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta (Turiarte), onde 76 famílias recebem turistas de todo o mundo para visitar a produção local de peixes, mel e farinha de mandioca, fazer trilhas pela floresta preservada, tomar banho de rio e vivenciar a piracaia, um ritual que remete a ancestrais ribeirinhos e indígenas que assavam peixes na beira da praia de água doce.
Além do turismo comunitário, a mesma rota pelos rios Tapajós e Arapiuns que leva turistas à comunidade, também é responsável por escoar as mil peças de artesanato produzidas pelos 114 homens e mulheres que compõem a Turiarte, que produz itens feitos à base da palha do Tucumā. A produção feita por 12 comunidades abastece a loja sede, em Santarém, assim como mercados locais e estrangeiros, como o dos EUA.
Só em 2024, a cooperativa lucrou o equivalente a R$ 400 mil. Para 2025, a expectativa é aumentar a receita com a chegada de mais turistas no ‘Caribe Amazônico’ e uma demanda fixa por utensílios de artesanato para Belém, gerados pela COP30.
“Aumentou a demanda e conseguimos organizar de forma melhor. A demanda está fechada para novos clientes, pois o trabalho manual leva bastante tempo”, afirma Natália Dias Viana, presidente da Turiarte. A cooperativa, fundada em 2015, tem 180 cooperados espalhados por 12 comunidades da região, entre reservas extrativistas e assentamentos da reforma agrária. O faturamento com turismo quase dobrou recentemente, para R$ 12 mil por mês, também por influência da COP30. O fluxo maior é aguardado para o verão.
A capacidade de produção da Turiarte gira em torno das mil peças por mês, mas a demanda estava próxima de 300 itens até então. Para os membros da Turiarte, o cooperativismo permitiu uma maior autonomia da comunidade sobre seus negócios.
A artesã e cooperada Ivaneide de Oliveira relembra que até pouco tempo atrás, quando as comunidades eram organizadas apenas em forma de associação, e não podiam comercializar legalmente a produção de artesanato, era comum que os atravessadores atracassem nas margens do rio para pechinchar e “comprar baratinho”. Agora, a presidente celebra os avanços promovidos pela mudança: “Conseguimos comercializar melhor e pagar diretamente para cooperado”, afirma.
O objetivo atual é ampliar o número de comunidades integradas e cooperadas, assim como acessar diretamente o consumidor final, já que 80% da comercialização atual é voltada para lojistas. A cooperativa tem planos de criar uma loja virtual para venda dos produtos locais e estreitar o caminho para o consumidor final. “Estamos com um pé para a exportação, é um sonho que temos. Nosso trabalho é bem aceito no mercado internacional”, diz Viana.
O superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) no Pará, Júnior Serra, aponta a exportação como um caminho viável para os produtos da sociobioeconomia amazônica, embora o brasileiro ainda não consuma esses itens.
“Se conseguir avançar no mercado interno, podemos abastecer e escalonar isso de uma forma muito mais interessante”, afirma.
Para garantir segurança e previsibilidade para a iniciativa, uma das ideias é levantar R$ 30 mil em um tipo de ‘fundo semente’ para viabilizar a produção e manutenção de estoques. Viana alega que, recentemente, a Turiarte perdeu alguns contratos de fornecimento de peças por falta de material para pronta entrega.
Com a nova estruturação, que passa por ampliação de comunidades parceiras e participação dos cooperados em um curso sobre posicionamento internacional e vendas, os sonhos e metas crescem.
“Estamos com um pé para a exportação, é um sonho que temos. Nosso trabalho é bem aceito no mercado internacional”, diz Viana.