A Floresta Amazônica, responsável por irrigar com seus “rios voadores” as maiores lavouras e pastagens do Brasil, está em colapso. O resultado é um prejuízo acumulado de mais de R$ 250 bilhões para a agropecuária do país nos últimos anos, provocado pela combinação letal de falta de chuvas, incêndios florestais e o impacto do desmatamento, que desregula o clima.
É o que revela um novo estudo do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio) e do projeto Amazônia 2030, divulgado nesta sexta-feira (10).
O montante acumulado de perdas devido à seca entre 2013 e 2022 foi de cerca de R$ 186 bilhões na produção agrícola e de R$ 64 bilhões na pecuária, segundo dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM) citados no estudo. Os pesquisadores alertam que novos episódios de seca, entre 2023 a 2024, indicam que os prejuízos podem ser muito maiores.
“Ao regular os regimes de chuva em todo o país, a Floresta Amazônica constitui um ativo estratégico para a produtividade nacional. A escassez de água já afeta a geração de eletricidade, a agropecuária, o transporte hidroviário, o abastecimento urbano e até a resiliência a incêndios, com prejuízos que somam bilhões de reais”, diz o relatório.
Incêndios e o El Niño
Os incêndios de 2024 representaram uma perda de R$ 14,7 bilhões, sendo R$ 8 bilhões na pecuária e pastagens, e R$ 2,7 bilhões em áreas de cana-de-açúcar.
No ano passado, o fogo queimou mais de 30,8 milhões de hectares no país, um crescimento de 79% no comparativo anual, afetando cerca de 18,9 milhões de pessoas. Esse aumento expressivo foi associado à ocorrência do fenômeno climático El Niño.
A Amazônia foi o bioma mais afetado pelos incêndios, impulsionado pelas chuvas abaixo do nível histórico.
O impacto nos rios voadores
O estudo ressalta a vulnerabilidade da agricultura brasileira. Com base em dados de 2022, apenas 13% da área agrícola do país contava com irrigação.
“Com isso, a agricultura brasileira se torna vulnerável a alterações nos regimes de chuva. De fato, perdas significativas têm sido observadas em razão da ocorrência de secas”, pontua o relatório.
A falta de chuva está diretamente ligada ao desmatamento e aos rios voadores. Em seu ciclo natural, a floresta amazônica transporta umidade por correntes de vento que caem em forma de chuva em outras regiões do continente. A água da chuva que cai na floresta é, em parte, devolvida à atmosfera pela evapotranspiração, carregando umidade que é redistribuída.
No entanto, a perda de vegetação causada pelo desmatamento faz com que a floresta perca a capacidade de recarregar a atmosfera, reduzindo o volume de chuvas ao longo do caminho dos ventos.
Esses danos aos rios voadores comprometem a capacidade da vegetação de resistir ao fogo. A análise alerta para a interseção abrangente entre a trajetória dos rios voadores e as principais regiões da agropecuária brasileira.
Neste contexto, os pesquisadores enfatizam que a redução do volume de chuvas, associada à baixa cobertura de irrigação, contribui para as perdas registradas pelo agro durante os períodos de estiagem.
Políticas públicas
O relatório é enfático ao dizer que o Brasil já demonstrou ter capacidade de proteger a floresta ao desenvolver um arcabouço eficaz de combate ao desmatamento. Políticas como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), a priorização de municípios para ações de prevenção, monitoramento e controle, e a concessão de créditos condicionados à regularização ambiental reduziram substancialmente a destruição do bioma.
O estudo afirma que, entre 2004 e 2014, a taxa de desmatamento foi reduzida em aproximadamente cinco vezes. Contudo, essa trajetória foi interrompida: entre 2014 e 2021, o desmatamento mais do que duplicou. Após 2021, as taxas voltaram a cair pela metade (46%).
Para os pesquisadores, a adoção de políticas de combate ao desmatamento não pode ficar submetida a ciclos políticos; deve ser um esforço contínuo para a proteção da floresta.
“O desmatamento da Amazônia, além de acarretar profundos impactos ambientais, climáticos e de perda de biodiversidade, é uma ameaça à economia brasileira. A proteção da Floresta Amazônica precisa ser estrategicamente encarada como prioridade nacional”, diz o texto.