Os mais de 50 mil turistas aguardados para a COP30 chegaram a capital paraense criando seus próprios roteiros turísticos.
Instalados em hotéis, sites de hospedagens e aplicativos como Airbnb, as delegações e demais participantes estão alojados em diversos locais da Grande Belém, girando a economia dos bairros do centro até a periferia.
Evan Jenkins veio do Reino Unido e está hospedado no bairro do Guamá, na casa dos pais de um amigo, que hoje vive em Salvador. Ele conta que conheceu o paraense Daniel em projetos de democratização da saúde para comunidades carentes do Brasil.
“Aprendi a falar português com o Daniel e outros amigos brasileiros, mas nunca tinha vindo até o norte, ainda mais na casa dele. De cara, fiquei aqui para economizar, mas os pais dele estão me levando a alguns locais e estou conhecendo outros que me fazem pensar como seria ter nascido aqui”, diz.
Joseanie e Lourival, pais de Daniel, dizem que ficaram um pouco temerosos com a chegada de Evan no começo, mas logo entenderam o que o visitante buscava e se sentiram mais confortáveis com sua presença.
“De início, pensamos em levar ele para museus, praias, locais do centro histórico, mas ele fez alguns pedidos diferentes quando chegou”, conta.
Evan conta que quis conhecer lugares e coisas que Daniel sempre mencionou: ir à praça perto de casa do amigo, comer a unha de caranguejo do bairro (nome dado para a coxinha, quando feita com partes da pata do crustáceo) e visitar a Ilha do Combu.

Gastronomia e natureza
Turistas como Evan estão fazendo a alegria de pessoas como Boaventura Junior, responsável pelo restaurante Boá na Ilha, localizado no Furo da Paciência, parte da Ilha do Combu. Ele conta que o movimento no local cresceu desde a Cúpula dos Líderes, que antecipou as programações da COP30 em Belém.
“O movimento cresceu bastante. A grande diferença é que o turista quer provar de tudo um pouco, especialmente o estrangeiro”, relata.
O restaurante que une natureza e gastronomia funciona nas sextas, sábados e domingos, de 10h às 18h, mas o proprietário diz que além do movimento avulso, cresceu a busca feita por grupos, buscando agendamentos para passeios e programações especiais.
“Geralmente o contato com os turistas é muito respeitoso, eles querem saber como comemos, de onde vem cada coisa”, explica.
Assim como Evan, Maria Huenul, do Chile, também fez questão de conhecer o entorno da capital. A chilena já conhecia a região Norte: esta é a terceira vez que visita um estado da Amazônia brasileira e a segunda vez no Pará.
“Já estive em Santarém, Monte Alegre e agora Belém. O que tenho a dizer é que a gente se sente mais próximo a cada vez que retorna à cidade. Os passeios ficam cada vez melhores: a praça no dia de domingo, o pão na padaria da esquina”, relata.
Maria conta que, com a COP30, teve a oportunidade de ter uma ‘experiência imersiva’ em Belém, morando em uma rua no bairro do Marco meses antes do evento global.
“Como trabalho remoto e precisei falar mais sobre a cidade, combinei com minha chefia de chegar aqui em maio e foi incrível. Vivi as festas juninas, as férias de julho, peguei um bronze em Outeiro, comi tapioquinha em Mosqueiro.. o difícil vai ser voltar”, diz.
A cidade dentro da cidade
E não é só a turista chilena que está vivendo como uma local nesta época de COP3 em Belém. Ananindeua, uma das cidades da Grande Belém tem abrigado parte dos visitantes e observadores que vieram da República Democrática do Congo.
No bairro do Coqueiro, Jaques Ngoma diz que sua maior diversão na cidade é ir aos bares e igarapés nas noites de sexta-feira e sábado, e ir á feira no domingo.
“Já provei várias caipirinhas de jambu e muita coxinha de maçaneta com suco nos bares da Praça da Bíblia e também no parque do maguari, digo, Vila Maguary”, cita.
Os locais citados por Jaques estão fora do eixo turístico oficial da capital paraense, mas atraem diversos moradores de outras cidades próximas como Marituba, Castanhal e Santa Izabel.

Jaques detalha que gosta de levar uma rotina mais regrada e, quando chegou na cidade, procurou por lugares onde pudesse fazer as compras da semana e também passear no tempo livre.
“Já fui à barbearia, à feira, supermercados. A melhor parte de circular dentro do bairro é fazer amigos em lugares comuns e conhecer outros lugares. Tem um restaurante japonês aqui que tem sushi com queijo do marajó, já provou?”, questiona.
Uma semana depois de Jaques, Aya Massamba também chegou à Grande Belém, mas no distrito de Icoaraci, região conhecida principalmente pelo artesanato em cerâmica.
“Eu pesquisei um pouco e ví que é uma região conhecida pelo artesanato. Também procurei um pouco por restaurantes, mas quando encontrei o Jaques, ele me levou para lugares maravilhosos em bairros que nunca tinha ouvido falar, mas onde dancei carimbó, comi, bebi”, conta aos risos.

Próximo ao final da primeira semana da COP30, Aya, Jaques e Evan pretendem levar seus amigos recém chegados em Belém para roteiros feitos a partir das suas próprias experiências.
O local escolhido pela dupla do Congo é o restaurante Terra do Meio, em Marituba, referência local em culinária e conexão com o meio ambiente. Jaques justifica a escolha:
“Fiz um amigo aqui na cidade que já foi lá. Também já segui nas redes sociais e vi que é um lugar com água gelada, tranquila e muito peixe frito com açaí, perfeito pra descansar”, diz.
Evan diz que esta frequentando diversas festas na cidade desde o início da semana e que pretende ir em todas que conseguir.
“Já fui no Palácio dos Bares, festas de aparelhagem (como Rubi e Crocodilo), roda de carimbó. Tô conhecendo tudo que puder, com direito ao churrasquinho no final”, diz.
Já Aya diz que vai encontrar com os amigos em Marituba, mas antes, ela e outras mulheres do grupo vão em um Salão de Beleza de Icoaraci.
“Vamos fazer as unhas porque teremos uma outra semana de muito trabalho, mas vi unhas e esmaltes muito bonitos aqui no Brasil, quero experimentar também”, narra.


