As recentes negociações na Conferência do Clima de Bonn (Alemanha) mostraram um avanço misto na preparação para a COP30, em Belém. A reunião do corpo subsidiário do Acordo de Paris conseguiu adiantar textos para dois dos três temas prioritários, mas esbarrou na difícil questão da meta global de adaptação às mudanças climáticas, que continua sem consenso.
Este ponto só foi incluído no texto final após intensas discussões que se estenderam até a madrugada do último dia da reunião, terminada na quita-fera, 26. O impasse central reside na falta de acordo sobre o financiamento dos países ricos para bancar os objetivos de adaptação das nações mais pobres.
As negociações climáticas mais uma vez viram um forte embate entre países ricos e nações em desenvolvimento. A principal discórdia girou em torno de dois pontos cruciais: quem vai pagar a conta do financiamento climático e como escolher os indicadores para medir o progresso das políticas de adaptação às mudanças do clima. Sem garantias financeiras, os países em desenvolvimento se mostram reticentes em firmar compromissos ambiciosos.
Ainda assim o governo brasileiro comemorou os avanços.
“Houve acordo praticamente sobre todos os temas em Bonn — objetivo global de adaptação, transição justa e diálogo sobre o balanço global, entre muitos outros”, comemorou a embaixadora Liliam Chagas.
Na avaliação da delegação brasileira, o saldo é positivo, já que entre 49 itens na agenda de deliberação não houve acordo em apenas dois (a Meta Global de Adaptação e o financiamento climático). Para a CEO da COP30, Ana Toni, apesar do ambiente de conflito da geopolítica global, o que se observou em Bonn foi uma reação de força da cooperação entre os países.
Para Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, as vitórias nesse processo nunca são nítidas. “Esse é um dos problemas para avaliar resultados de negociação de clima”.
“De forma geral, considerando o contexto internacional muito ruim em que estamos vivendo, podemos dizer que o Brasil foi, sim, aprovado no seu primeiro teste na presidência da COP30”, disse à Folha.
Balanço global e transição justa
Outro tema em debate foi o balanço global, que avalia o progresso das promessas de corte de emissões de gases de efeito estufa. Embora a delegação brasileira tenha reivindicado sucesso nesse ponto, observadores internacionais veem a situação com preocupação. Os compromissos atuais ainda estão longe de conter o aquecimento global dentro das metas de 1,5°C a 2°C estabelecidas no Acordo de Paris. Isso indica que, apesar do diálogo, a ambição para reduzir as emissões ainda precisa ser significativamente elevada.
Já o terceiro item em pauta obteve um êxito mais consensual: o texto sobre a “transição justa” do sistema energético e de produção econômica mundial. O objetivo dessa seção é delinear como essa transformação para uma economia descarbonizada pode ocorrer, protegendo setores sensíveis da economia e as partes mais vulneráveis da sociedade ao longo do processo.
Apesar disso, as questões pendentes mostram que ainda há muita tensão entre os negociadores dos países.
Com a meta de adaptação ainda em aberto e a necessidade de mais ambição no corte de emissões, as discussões de Bonn deixam claro que os negociadores terão grandes desafios pela frente até a COP30, em Belém, onde o financiamento climático continua sendo o principal obstáculo.
“Durante as duas semanas em Bonn, a adaptação dominou a agenda das negociações, mas os avanços foram insuficientes. A GGA teve algum progresso técnico, mas segue distante de responder com a urgência, o contexto e a justiça que a realidade exige. Outros temas, como os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e o financiamento, permanecem estagnados”, avaliou a força-tarefa Adaptação como Prioridade Rumo à COP30, que integra várias organizações não governamentais da América Latina.