A COP30 teve seu anúncio mais importante até agora. Na tarde desta terça-feira,18, diversos países fizeram um chamado por um mutirão para que a conferência aprove um mapa do caminho para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Ministros da Alemanha, Colômbia, Reino Unido, Quênia e Serra Leoa fizeram o anúncio em entrevista coletiva que lotou uma das salas de conferência de imprensa na Blue Zone.
Carsten Schneider, ministro do Meio Ambiente da Alemanha, foi o primeiro a falar e declarou seu apoio e de outros países europeus à iniciativa.
“Nós pedimos à presidência da COP30 que inclua esse chamado no texto da conferência. Nesse espírito de mutirão, vamos aprender com as experiências uns dos outros e implementar conjuntamente a transição”, disse.
Irene Vélez Torres, ministra de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, reforçou a importância da iniciativa.
“A urgência da crise climática não permite atrasos”, afirmou, relembrando a decisão do país latino-americano de conduzir a eliminação gradual dos fósseis. “Cada uma das partes aqui presentes precisa se comprometer”, conclamou.
À imprensa, a ministra colombiana declarou que, nas primeiras 24 horas de coleta de assinaturas, a iniciativa recebeu 16 adesões.
“Estamos somando países para essa declaração. Sabemos que somos um bloco forte, que podemos incidir nas negociações e que ecoamos pedidos de comunidades locais e povos mobilizados, aqui em Belém e no mundo”.
Ali Mohamed, enviado especial para o clima do Quênia, destacou a participação do país africano na iniciativa e a necessidade de que a transição para longe dos fósseis aconteça de maneira justa e garantindo o acesso de milhões de pessoas ao redor do mundo à eletricidade.
“O acesso à energia é muito importante para o Quênia e a África, onde mais de 600 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade. Quero enfatizar que precisamos fortalecer a transição para longe dos fósseis e ao mesmo tempo prover acesso à energia para aqueles que não têm”, declarou.
Já Ed Miliband, secretário de Segurança Energética e Net Zero do Reino Unido, chamou atenção para o fato de que o mutirão lançado hoje reúne países desenvolvidos e em desenvolvimento. “Somos uma coalizão global, do sul e do norte, para enfrentar um problema que não pode ser ignorado”, disse.
A ativista climática Marcele Oliveira, campeã de juventude da COP30, saudou a iniciativa, mas cobrou dos países mais esforços para que se amplie o quórum. “Quero agradecer aos ministros pelo apoio [ao mapa do caminho]. Mas, ao mesmo tempo, dizer que precisamos de mais pessoas. Precisamos de todos, e de uma COP da implementação e ação para que a transição para longe dos fósseis aconteça”, afirmou.
“Lula não está sozinho”
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, avaliou com bons olhos o anúncio:.
“Logo no começo da COP, no primeiro dia, o presidente Lula fez um discurso muito importante, dizendo que esperava que a conferência de Belém entregasse um mapa do caminho para o fim do uso dos combustíveis fósseis. O que a gente viu no evento de hoje é que o presidente Lula não está mais sozinho nesse pedido.”
“Ele tem o apoio de dezenas e dezenas de países que também querem ver nas resoluções finais do encontro de Belém esse roteiro que nos livre do uso dos combustíveis fósseis ao redor do mundo. Com seu discurso, Lula inspirou os países, que ouviram e agora oferecem apoio ao presidente brasileiro”, completou.
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança de Clima) discursou no segmento de alto nível da COP, que reúne ministros dos países, um pouco antes do anúncio. Citando o discurso de Lula, também enfatizou o chamado para que Belém entregue resoluções concretas sobre a eliminação dos fósseis e o fim do desmatamento.
“Precisamos planejar os caminhos e garantir os recursos financeiros e suporte técnico para reduzir a alta dependência desses combustíveis para a geração de empregos e a segurança energética em várias partes do mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento. Nesse processo devem caminhar, de forma concomitante, Mapas do Caminho para o Fim do Desmatamento, igualmente determinados por cada país, com cooperação, financiamento e pleno respeito aos povos indígenas e comunidades locais”, disse.
ONGs criticam primeiro rascunho da presidência
De manhã, representantes de organizações da sociedade civil criticaram a abordagem sobre fósseis do primeiro rascunho da Decisão Mutirão apresentado pela presidência da COP.
“As opções apresentadas nesta manhã para o mapa do caminho para a eliminação dos fósseis são profundamente inadequadas. Honestamente, parece uma piada”, disse Romain Ioualalen, da Oil Change International.
Segundo Ioualalen, as propostas de realização de workshops e de reuniões ministeriais para abordar o tema são insuficientes. “Precisamos de muito mais desse processo se quisermos que a COP30 tenha credibilidade”, declarou, destacando que a conferência precisa ser capaz de aprovar um processo baseado em equidade (garantindo que os países ricos iniciem a transição) e com financiamento público dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.
“Não queremos um relatório, não queremos uma reunião, queremos um processo real. Queremos uma decisão clara da COP de que os países vão trabalhar juntos para definir como farão isso”, finalizou. Parte deles, aparentemente, escutou o pedido.
Fonte: Observatório do Clima


