Marcada pela cobrança pela implementação do Acordo de Paris, a segunda semana da COP30 começou trazendo a bioeconomia como solução central para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Neste cenário, três iniciativas brasileiras mostram que o caminho passa pela ampliação de mercados e pela produção baseada em agroflorestas, extrativismo e inovação, reforçando as oportunidades na Amazônia.
É o caso do AgForest Lab, nova fazenda experimental da Embrapa em Belém dedicada ao desenvolvimento de sistemas agroflorestais escaláveis. O espaço permitirá testar, validar e demonstrar tecnologias em condições reais de produção, criando modelos replicáveis que integrem espécies agrícolas e florestais de alto valor econômico.
A sua implementação ocorrerá em um campo experimental de 213 ha, da Embrapa Amazônia Oriental, localizado em Belém, durante o ano de 2026. O espaço será aberto para empresas, de diferentes portes, instituições, entidades, universidades e produtores rurais que queiram, principalmente, desenvolver, validar e demonstrar tecnologias ligadas à inovação agroflorestal na Amazônia.
“O AgForest Lab constitui um laboratório vivo institucionalmente concebido para transformar campos experimentais em verdadeiras plataformas de inovação aberta, promovendo a cocriação e o codesenvolvimento entre a Embrapa, empresas e instituições parceiras”, explica Vitor Mondo, supervisor de Ecossistemas de Inovação da Embrapa.
O papel dos Safs
No modelo proposto, os SAFs são pensados para serem, após validação, replicados para grandes áreas, com potencial de sustentação de cadeias produtivas de alto valor agregado e, também, novos insumos para descarbonização de cadeias industriais tradicionais. Entre as culturas com potencial para escala agrícola estão açaí, andiroba, cacau, café, cumarú, dendê, entre outras.
“Os sistemas agroflorestais que propomos aqui são pensados em escala: são produtivos, geram renda e conservam a biodiversidade. Trabalhamos com espécies amazônicas de alto valor econômico e ecológico, que abastecem mercados com crescente demanda por insumos sustentáveis e de origem florestal”, explica Bruno Giovany de Maria Bruno, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa.
Inova Amazônia Global Edition
Se o AgForest Lab foca na produção em campo, o Inova Amazônia Global Edition amplia as fronteiras dos negócios que surgem da floresta. Lançado pelo Sebrae na Green Zone da COP30, o edital é o primeiro voltado exclusivamente para empresas inovadoras da Amazônia com potencial de atuação internacional. Assim, serão selecionados 80 negócios que já passaram por aceleração e demonstram capacidade de crescimento.
O objetivo é posicionar empresas que transformam produtos da floresta em alimentos, cosméticos, bioativos e outras soluções sustentáveis. Criado em 2021, o Inova Amazônia soma 409 empresas aceleradas, 660 ideias apoiadas e R$16 milhões em bolsas. Entre os resultados, 17% das participantes depositaram patentes, 22% receberam investimento e 31% iniciaram processos de internacionalização.
“A bioeconomia amazônica é ativo estratégico para o País, com negócios capazes de transformar cadeias produtivas inteiras. O Global Edition nasce para acelerar essas empresas e conectá-las ao que há de mais avançado em mercado, investimento e conhecimento”, afirma o diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick.
Coopera+ Amazônia
Com investimento de quase R$ 107 milhões, o programa Coopera+ Amazônia vai fortalecer 50 cooperativas que atuam com babaçu, açaí, castanha e cupuaçu em cinco estados da Amazônia Legal. A iniciativa, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e executada em parceria com BNDES, MDIC, Embrapa e Sebrae, prevê apoio por 48 meses e deve beneficiar cerca de 3.500 famílias.
“A bioeconomia amazônica é única, fruto dessa floresta extraordinária, que garante sobrevivência, não derruba árvores nem polui os rios, é sustentável. Essa é a reflexão que precisamos fazer, principalmente, nesse modelo de cooperativas”, ressalta o presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima.
O programa investirá em consultorias, capacitações, assistência técnica, extensão rural e aquisição de máquinas capazes de reduzir a penosidade do trabalho extrativista e agregar valor aos produtos. A expectativa é ampliar produtividade, elevar renda, aumentar o número de cooperados, reduzir e reaproveitar resíduos e expandir mercados para os produtos da sociobiodiversidade.
Fonte: André Garcia/Gigante 163


