Por Tereza Coelho
Com o grande desafio de zerar o desmatamento até 2030, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) usou a COP30 para mostrar as estratégias de fiscalização e regularização ambiental que está utilizando para enfrentar o problema.
Em um encontro na Green Zone, a área de debates abertos ao público, técnicos, produtores e especialistas conheceram o papel das ferramentas tecnológicas e da articulação institucional, como eixos centrais para reduzir o desmatamento e fortalecer a bioeconomia regional.
A principal aposta do governo paraense é o MonitoraCAR. Segundo Carla Reis, da Diretoria de Tecnologia de Informação da Semas, essa ferramenta acompanha a recomposição florestal de fazendas e sítios usando dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Desde agosto de 2023, o sistema é automatizado e consegue identificar rapidamente áreas degradadas e em regeneração.
“A ferramenta é fundamental para entender onde estão as áreas em regeneração e como o estado pode atuar de forma mais assertiva na recuperação”, destacou Carla Reis.
Esse avanço faz parte de uma estratégia mais ampla, que busca unir regularização fundiária, controle do desmatamento e incentivo à produção sustentável. O cruzamento entre informações do CAR, do Incra e de bases estaduais, permite reconhecer áreas aptas à restauração e planejar investimentos em sistemas de bioeconomia.
Raoni Rajão, professor do Centro de Inteligência Territorial da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – um dos apoios da Semas na elaboração do sistema-, aponta que a agilidade e precisão na disponibilidade das informações são fundamentais para garantir o acesso dos proprietários às políticas públicas, mas também no treinamento adequado gerado na Universidade.
“Integrar os sistemas já disponíveis, seja dados de satélite, bancos de imagens ou índices numéricos, é fundamental para gerar mais agilidade nesses processos relacionados ao campo e meio ambiente. A integração alinhada também permite uma tomada de decisões mais ágil e completa, principalmente agora onde há uma corrida contra o tempo na linha de frente contra a crise climática”, disse.
Virada de chave: do privado ao público
Jakeline Viana, diretora de Monitoramento da Semas, compartilhou que a integração tecnológica era um problema antigo. Antes, a secretaria usava plataformas privadas que perdiam o suporte a cada troca de gestão. “O resultado? O dono do imóvel rural perdia o acesso completo às informações e quem trabalha no órgão voltava às planilhas, dificultando ainda mais a atuação”, explicou.
A “chave virou” quando a Semas decidiu trocar os serviços privados por tecnologias abertas e se aliou a instituições sólidas como a UFMG. Essa mudança gerou o que Jakeline chamou de um “salto evolutivo”, garantindo mais agilidade, qualidade de dados e acesso rápido para produtores, bancos e setor legal.
Restaurar é gerar renda
Para Indara Aguilar, da Diretoria de Mudanças Climáticas, o uso da tecnologia e a articulação com produtores e comunidades transformam a restauração florestal em desenvolvimento econômico em cadeias como a do cacau e do açaí.
“Quando a gente fala em restauração, não é apenas plantar árvores. É falar de renda, de permanência das famílias no campo e de fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis”, afirmou.
O Pará já analisou mais de 9,5 milhões de hectares do CAR, de acordo com Indara. Essa base de dados será usada para orientar recursos climáticos e compensações ambientais, conectando o estado a compromissos internacionais de descarbonização.
A diretora Jakeline Viana concluiu que o momento atual reflete uma mudança de paradigma na Amazônia: sair da visão de apenas controle para a visão de oportunidade, usando a tecnologia para fiscalizar e, ao mesmo tempo, planejar o desenvolvimento sustentável.
“Nosso objetivo e desafio principal é transformar informação em ação e resultado concreto para o clima e para as pessoas que vivem na Amazônia”, finalizou.


