A escolha de Belém como sede da 30ª Conferência Climática da ONU na Amazônia, a COP 30, enfrenta uma crise diplomática crescente. O presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago, revelou que países em desenvolvimento e nações ricas têm pressionado o Brasil a transferir o evento para outra cidade. O motivo é o alto preço cobrado pelos hotéis da capital paraense, considerados extorsivos e um obstáculo para a participação de delegações de mais de 190 países.
“Ficou público que os países estão pedindo para tirar a COP de Belém”, afirmou ele nesta quinta-feira, 31.
Segundo Corrêa do Lago, o valor das diárias em Belém foi, em alguns casos, multiplicado por 15. A prática, considerada abusiva por representantes internacionais, gerou um mal-estar diplomático que escalou após a declaração de Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores. Muyungi revelou à agência Reuters que países chegaram a solicitar oficialmente a mudança do evento, que será realizado em novembro de 2025.
A situação é particularmente grave para nações mais pobres. Corrêa do Lago explicou que, se em outras COPs os preços subiram o dobro ou o triplo, em Belém os hotéis “estão pedindo mais de 10 vezes os valores normais”. O impasse ganhou outra dimensão, pois o valor de US$ 700 por noite, cobrado por alguns hotéis, contrasta com o “auxílio-moradia” da ONU, que para Belém é de apenas US$ 149. Países como a Holanda e a Polônia já se preparam para reduzir suas delegações pela metade, e outros diplomatas relatam que ainda não conseguiram garantir acomodações devido aos altos preços.
Soluções e Limites do Governo Brasileiro
Diante do problema, o Brasil tenta correr contra o tempo. O governo está empenhado em expandir os 18 mil leitos de hotel disponíveis em Belém para receber as 45 mil pessoas esperadas para o evento. Para isso, anunciou a contratação de dois navios de cruzeiro para fornecer 6 mil camas extras. Também foram abertas reservas para países em desenvolvimento com preços mais acessíveis, de até US$ 220 por noite.
No entanto, o embaixador Corrêa do Lago afirmou que a legislação brasileira não permite impor limites às tarifas da rede hoteleira, o que restringe as ações do governo ao “diálogo” para tentar conter a crise. A Casa Civil coordena um grupo de trabalho para essa tarefa, e o Brasil se comprometeu a apresentar um relatório sobre o progresso em uma reunião do órgão climático da ONU agendada para 11 de agosto. A esperança é garantir acomodações adequadas para todos os delegados, evitando que o alto custo os obrigue a reduzir sua participação.
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