A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participou, nesta quarta-feira (1º/10), da abertura da conferência Espalhando Esperança, em Roma, na Itália. O encontro celebra os dez anos da encíclica Laudato Si’, elaborada pelo Papa Francisco em 2015 e considerada referência global para a defesa da vida, da ecologia e da justiça social. Antes, ela se reuniu com o Papa Leão XIV, que também discursou no evento, e reforçou o convite para que o líder católico participe da COP30, a Conferência do Clima da ONU que ocorre em Belém (PA), em novembro.
“É incoerente dizermos que amamos o Criador e destruirmos a criação”, destacou a ministra em sua fala na Espalhando Esperança. A fé, pontuou, é uma das ferramentas mais potentes para o enfrentamento à mudança do clima: “um dos maiores desafios que a humanidade já enfrentou até hoje”.
Ao comentar o chamado à responsabilidade coletiva proposto pela encíclica, a ministra frisou que “o notável impacto” das ações desenvolvidas, a partir dela, colaborou para a criação do Acordo de Paris, que também há dez anos representa um marco no regime climático internacional.
No entanto, declarou, os países desenvolvidos não têm cumprido seus compromissos no âmbito do acordo: “a despeito dos contundentes argumentos das ciências, tanto da ciência moderna quanto da ciência produzida pelos saberes ancestrais dos povos indígenas, de entidades da sociedade civil e das religiões”.
As metas de longo prazo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e para promover a adaptação e resiliência frente aos impactos do aquecimento global, além do aporte de US$ 1,3 trilhão anual para financiamento climático a países em desenvolvimento, foram alguns dos pontos citados pela ministra, como pendentes de implementação. Por outro lado, ela enfatizou que, nesse mesmo período, “uma média de US$ 4 a 6 trilhões anuais continuou a ser destinada à indústria da energia fóssil”.
A necessidade da mobilização global acompanhada da mudança no modo de vida e da maneira como a humanidade se relaciona com o planeta foi salientada pelo Papa Leão XIV.
“É somente por meio de um retorno ao coração que pode acontecer também uma verdadeira conversão ecológica. É preciso passar da coleta de dados ao cuidado; de discursos ambientalistas a uma conversão ecológica que transforme o estilo de vida pessoal e comunitário”, afirmou. “Para quem crê, trata-se de uma conversão que não difere daquela que nos orienta ao Deus vivo, porque não se pode amar o Deus que não se vê desprezando suas criaturas, e não se pode dizer discípulo de Jesus Cristo sem compartilhar de seu olhar sobre a criação e de seu cuidado pelo que é frágil e ferido.”
Com grande parte das respostas técnicas e dos acordos políticos já disponíveis “para executar essa agenda inadiável”, a ministra reiterou que “o que falta é o compromisso ético para usar a técnica e o conhecimento em benefício do enfrentamento à mudança do clima e do combate à desigualdade para que tenhamos um mundo próspero, justo e sustentável”.
A lacuna entre o que a ciência indica que deve ser feito e a efetiva ação climática, explicou Marina Silva, motivou a criação do Balanço Ético Global (BEG) para “acolher e amplificar as diferentes vozes na avaliação das metas climáticas, sob a perspectiva da ética”.
Liderado pelo presidente Lula e o secretário-geral da ONU, António Guterres, o BEG é uma das principais maneiras pelas quais a sociedade pode se engajar com a COP30. A partir da ética e da cultura, a iniciativa provoca a reflexão sobre até onde avançamos e as ações que ainda precisamos executar para que o planeta não ultrapasse a marca de 1,5ºC de aquecimento médio em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial, principal meta do Acordo de Paris. Ao longo dos últimos meses, o processo reuniu lideranças religiosas, artísticas, da sociedade civil, do setor empresarial, dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, ativistas e cientistas nos seis continentes do mundo.
Na audiência privada com o Papa Leão XIV, além de reiterar o convite para a COP30, a ministra disse que o mundo vive um contexto geopolítico desafiador, no qual movimentos como o da Laudato Si se tornam ainda mais importantes para dar sentido de urgência ao enfrentamento à mudança do clima.
A ministra mencionou, ainda, que a COP30 tem que ser a COP da implementação das decisões adotadas nos últimos dez anos, sobretudo, das resoluções da Consenso dos Emirados Árabes Unidos, firmado na COP28, em Dubai, pelo qual quase 200 países se comprometeram a triplicar energias renováveis, duplicar sua eficiência energética, interromper o desmatamento e fazer a transição para o fim do uso de combustíveis fósseis de maneira justa, ordenada e equitativa.
Também participaram do encontro com o Papa, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o cardeal Jaime Spengler; e o ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger; o fundador do Instituto Schwarzenegger de Políticas Estaduais e Globais da Universidade do Sul da Califórnia e da Iniciativa Climática Schwarzenegger.