Se queremos resultados diferentes na luta contra as mudanças climáticas, precisamos agir de forma diferente, especialmente quando o assunto é financiamento. Essa é a visão de Mafalda Duarte, diretora executiva do Fundo Verde para o Clima (GCF na sigla em inglês), que aponta o desafio de angariar US$ 1,3 trilhão para ações climáticas na COP30. Para ela, o caminho passa por inovar nos incentivos financeiros, com destaque para os chamados fundos verdes.
“O grande desafio do Brasil é gerar a vontade política e o entendimento político de que é necessário encontrar outros novos instrumentos que permitam, basicamente, mobilizar os recursos públicos que são necessários para que se alavanque o setor privado”.
Ela ressaltou que, embora os recursos públicos sejam necessários, os orçamentos dos estados não serão suficientes para bancar esse trilhão de dólares; o setor privado terá um papel crucial.
Nesse contexto, os fundos verdes atuam como uma ponte entre o financiamento público e privado para apoiar iniciativas de mitigação (redução de emissões) e adaptação climática. O Fundo Verde para o Clima é o maior do mundo, com US$ 18 bilhões investidos em mais de 130 países.
A lacuna da infraestrutura
Mafalda Duarte explica que o GCF funciona como um catalisador.]
“O setor privado pode fazer determinadas coisas, mas chega a um ponto em que já não podem fazer. Porque os riscos são muito elevados, porque os custos de capital são muito elevados, porque não podem dar um financiamento a longo prazo”, destacou. Ela vê o Fundo com um “papel fundamental em todo este ecossistema de financiamento climático e de apoio aos países em desenvolvimento”.
A diretora enfatiza que a preocupação com os países em desenvolvimento é prioritária, dada a sua maior vulnerabilidade a eventos climáticos extremos e o baixo investimento em infraestrutura resiliente.
“É preciso compreender muito bem porque é que esse gap de investimentos em infraestrutura é crítico. Os investimentos em infraestrutura que se fazem duram 30, 40, 50 anos. Nós não podemos permitir que esses novos investimentos em infraestrutura sejam de alto carbono e não resilientes”, alertou.
Outro ponto crucial levantado por Duarte é a necessidade de incluir as comunidades locais nos debates climáticos. A própria COP30, por exemplo, criou o Círculo dos Povos para integrar as demandas dos territórios indígenas nas negociações.
“Historicamente o que acontece no financiamento de clima e também no financiamento de apoio ao desenvolvimento é que grande parte dos fundos não chegam às comunidades locais, aos mais vulneráveis, aqueles que estão mais expostos. Inclusive por causa disso, há todo um esforço, por exemplo, a nível internacional de princípios do que se chama locally led adaptation. Ou seja, que esforços de adaptação sejam liderados localmente. Tudo isso é um reconhecimento da realidade, de que não temos feito o suficiente para que o financiamento chegue”, lamentou a diretora.
Encontro estratégico para a COP30
Na terça-feira (16/7), Mafalda Duarte se reuniu com o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, e a CEO da COP30, Ana Toni. A pauta foi como o Fundo Verde para o Clima pode se alinhar à agenda de ação da COP30.
“Nós discutimos não só o que podíamos trazer para a COP 30, como também o que estamos já fazendo no Brasil, até este momento, e aquilo que pretendemos fazer no Brasil nos anos futuros. E como é que nós podemos aprender das experiências que já tivemos e das soluções que estão a ser implementadas e pensar a um nível muito maior de ambição”, contou Mafalda Duarte.
O embaixador André Corrêa do Lago celebrou a visita de Mafalda Duarte e relembrou a importância histórica do Fundo Verde para o Clima, que nasceu na COP16, em 2010.
“O fundo verde do clima foi um sonho ao longo de vários anos dos países em desenvolvimento, que era realmente de criar um fundo que tivesse como prioridade as prioridades dos países em desenvolvimento. Então, demorou vários anos para a gente negociar do fundo verde do clima. E, agora, com a liderança da Mafalda Duarte, estamos vendo uma evolução muito positiva e também uma maior aceleração no fornecimento dos recursos e também um esforço muito grande para obtenção de recursos adicionais”, disse o embaixador.