A realização da COP30 em novembro deste ano, em Belém, será uma oportunidade para avançar nas discussões sobre o financiamento para adaptação e mitigação das mudanças climáticas. É o que acredita Thelma Krug, líder do comitê científico da cúpula climática, que espera um clima mais favorável às negociações, diferente do que houve nas últimas três COPs que ocorrem no Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão, onde foi maior a influência de empresas e governos favoráveis à exploração de combustíveis fósseis.
Outro fator importante é que a sede em Belém chama atenção para a realidade dos países em desenvolvimento e os impactos das alterações do clima em regiões mais vulneráveis. Para a cientista, o evento vai fazer “cair a ficha da realidade em que vivem os países em desenvolvimento”.
“Acho que o interessante de ter a COP na Amazônia é o fato de que os países vão ter a oportunidade de sobrevoar as áreas extensas de floresta. Vai ser um choque de realidade, [ver] que a gente ainda tem muita floresta e precisa de muito dinheiro para mantê-la de pé”, afirmou Thelma Krug em entrevista à Folha de São Paulo.
Para ela, que já foi integrante do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) por mais de 20 anos, é importante que a COP30 construa acordos para que o mundo siga a meta preferencial do Acordo de Paris, que é evitar o aumento da temperatura acima de 1,5ºC em comparação com os níveis pré-industriais.
Outro ponto-chave é com a mobilização para garantir recursos para ações de adaptação às mudanças que já ocorreram no clima e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa. A ONU e países como o Brasil defendem que o financiamento climático receba um aporte anual de US$ 1,3 trilhão, mas na COP29 só foi acordado o valor de US$ 300 bilhões até 2035.
“Hoje ampliou-se o leque de sensibilidade à necessidade de um financiamento para implementação de ações tanto de mitigação quanto de adaptação. Muitas empresas querem ajudar, mas não sabem como. E governos poderiam ajudar com políticas públicas específicas que dessem incentivo para o setor público poder fazer um investimento nessas áreas”, avalia.
Thelma Krug disse ainda que a melhoria da infraestrutura nas cidades-sede da COP, como ampliação dos serviços de saneamento, é necessária, porém ressaltou que é importante ter em mente que o foco da conferência é construir acordos que vão reverberar em medidas para garantir o futuro de todo o planeta.