A 30ª Conferência sobre Clima das Nações Unidas (COP30) foi aberta oficialmente nesta segunda-feira (10), no Parque da Cidade, em Belém, com um tom de ultimato e a missão de transformar promessas em ações. Marcada pela transferência da presidência de Baku (COP29) para o Brasil, a conferência na Amazônia foi chamada de “COP da Implementação” e “COP da Verdade”.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago foi direto ao estabelecer o tom das negociações.
“Estamos reunidos aqui para tentar mudar as coisas. Essa é a COP em que temos que apresentar soluções, que vai ouvir e acreditar na ciência. Essa, portanto, é uma COP de implementação”, ressaltou, antes de fazer uma avaliação honesta: “Estamos quase lá, mas temos que fazer muito”, disse Corrêa do Lago.
Em seu discurso de abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudou a população paraense, dizendo que os visitantes nunca serão tão bem tratados como em Belém pelos anfitriões, e estabeleceu o tom mais grave ao “impor uma nova derrota aos negacionistas”. Lula não poupou críticas à falta de recursos globais e confrontou a lógica financeira mundial.
“Se os homens que fazem guerra estivessem aqui nesta COP, eles iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para acabar com o problema climático do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra como fizeram no ano passado”, afirmou o presidente.
O presidente também defendeu a escolha da sede:
“Seria mais fácil fazer a COP em uma cidade que não tivesse problema, mas a gente resolveu aceitar fazer a COP em um estado da Amazônia, para provar que o impossível é não ter coragem para enfrentar desafios”.
Lula foi enfático ao declarar que a mudança do clima deixou de ser uma ameaça ao futuro e se tornou uma “tragédia do presente”, citando o furacão Melissa, no Caribe, e os desastres no Sul do Brasil. Ele destacou, ainda, a urgência em acelerar a transição energética para superar a dependência dos combustíveis fósseis e dar atenção à adaptação climática.
No encerramento, o presidente propôs a criação de um Conselho do Clima vinculado à Assembleia Geral da ONU e denunciou o racismo ambiental, afirmando que a “emergência climática expõe a crise de desigualdade”.
Cobrança internacional
O secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, reforçou o tom de cobrança internacional, frisando que o “custo da inação é alto”. Stiell lembrou que os acordos já estão selados e o que falta é a ação:
“Já concordamos com a transição para longe dos fósseis. Triplicar renováveis, duplicar eficiência. Agora é hora de colocar em prática o Mapa do Caminho. Concordamos sobre um objetivo global de adaptação, agora precisamos de indicadores. […] Agora faltam passos concretos”.
Antes disso, Mukhtar Babayev, presidente da COP29, já havia cobrado o “espírito do acordo”, dizendo: “Depois de negociações tão difíceis, não há mais desculpas”. Babayev afirmou que a união entre Baku e Belém é uma “força imparável” na luta pela sobrevivência e o direito ao futuro.
Ainda na abertura, a cantora Fafá de Belém se apresentou, cantando a música “Amazônia”, de Nilson Chaves, e a ministra da Cultura, Margareth Menezes, interpretou “Emoriô”, composição de Gilberto Gil e João Donato.


