O Brasil pode reduzir em até 92,6% as emissões por quilo de carne produzida até 2050, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). O dado, apresentado na COP30, em Belém (PA), reforça o potencial sustentável do setor.
De acordo com o levantamento, desde 1990, a produtividade da pecuária aumentou 183% enquanto a área ocupada por pastagens encolheu 18%, combinação que sustenta a redução das emissões mesmo sem políticas adicionais. Se este ritmo for mantido, a queda deve chegar a 79,9%.
“A pecuária brasileira tem um papel central na agenda climática e um enorme potencial para contribuir com a descarbonização, liberando espaço nas metas do Brasil em relação ao Acordo de Paris. Isso é motivo de muito orgulho, mas também aumenta ainda mais a nossa responsabilidade”, destaca Roberto Perosa, presidente da ABIEC.
Papel das políticas públicas
O avanço máximo da descarbonização depende de políticas públicas que impulsionem a adoção das tecnologias avaliadas pela FGV. Entre as medidas essenciais estão o fim da ilegalidade e o cumprimento da meta de desmatamento zero até 2030, o que exige ação coordenada entre governos, produtores e frigoríficos.
Nesse sentido, a ABIEC afirma apoiar planos de prevenção e combate ao desmatamento e políticas públicas de rastreabilidade como o Plano Nacional de Identificação de Bovinos, o PNIB e a plataforma AgroBrasil+Sustentável ambas do ministério da Agricultura, além de iniciativas estaduais como o Selo Verde, o Programa de Integridade da Pecuária do Pará e a iniciativa da Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Quatro cenários
Para estimar o potencial de descarbonização da pecuária, o estudo avaliou quatro cenários de futuro. O primeiro reproduz apenas a continuidade das tendências atuais de uso da terra e produtividade, sem políticas adicionais. Nesse caso, as emissões por quilo de carne cairiam de 80 kg de CO₂ para 16,1 kg, redução de 79,9%.
O segundo cenário considera o cumprimento da meta brasileira de zerar o desmatamento até 2030, o que ampliaria a queda para 86,3%. Já o terceiro incorpora a adoção integral do Plano ABC+, com a recuperação de pastagens degradadas e a expansão de sistemas integrados, elevando o potencial de descarbonização para 91,6%.
O quarto cenário combina todos os anteriores e acrescenta técnicas zootécnicas, como aditivos para redução de fermentação entérica e o abate precoce. É nesse estágio que o percentual de redução chega a 92,6%. No balanço líquido das emissões do setor, a variação vai de 60,7% no cenário 1 a 85,4% no cenário 4.
Para além da regulação
Para isso, o setor precisa de incentivos que acelerem a adoção das práticas do Plano ABC+ e de tecnologias avançadas de manejo, garantindo viabilidade econômica para a recuperação de pastagens. Para a FGV, essas são condições-chave para transformar o potencial de descarbonização em resultados efetivos no campo.
“Os resultados reforçam que a pecuária brasileira já vem se tornando cada vez mais regenerativa e inovadora. No entanto, a adoção de políticas públicas e tecnologias de ponta é o que garante o salto de eficiência necessário para que o Brasil se posicione na vanguarda da sustentabilidade”, conclui Guilherme Bastos, coordenador da FGV Agro.
Fonte: André Garcia/Gigante 163


