A 12ª Promotoria de Justiça Agrária de Marabá, no Pará, abriu um procedimento administrativo para acompanhar as ações do Poder Público para combater a “vassoura-de-bruxa da mandioca”. A praga, que compromete a produção, foi identificada no Amapá e em uma comunidade indígena em Almeirim, com suspeita de ter chegado também a Oriximiná, ambos municípios paraenses.
A doença traz graves impactos sociais, econômicos e para a segurança alimentar, afetando principalmente os agricultores familiares, que dependem do cultivo da mandioca para sua subsistência.
“A praga da vassoura-de-bruxa da mandioca já dizimou 25% da produção em Macapá e ameaça se espalhar pelo Pará. Ainda não existem soluções de controle ou mitigação, por isso precisamos focar em ações preventivas, fortalecer a fiscalização e conscientizar os produtores. A perda da mandioca não afeta apenas a subsistência das famílias, mas também nossa identidade cultural e patrimonial, já que dela derivam produtos como a farinha de Bragança, a maniçoba, o tucupi e a tapioca”, afirmou a promotora de Justiça Agrária de Marabá, Alexssandra Muniz Mardegan.
Já o gerente de Defesa Vegetal da Adepará, Rafael Haber, afirmou que até o momento, a praga está restrita a uma comunidade indígena em Almeirim, possivelmente introduzida pelo intercâmbio de material de propagação com aldeias do Amapá.
A pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Elisa Moura, explicou que existem indícios de variedades de mandioca tolerantes à praga em comunidades indígenas e tradicionais. No entanto, ela alertou que o processo de pesquisa é limitado pela falta de recursos e pela impossibilidade de transportar o patógeno para centros urbanos, devido ao risco de propagação.
O fiscal federal agropecuário Glauco Antonio Teixeira, representante do Ministério da Agricultura, relatou que os levantamentos no Pará confirmaram a presença da praga apenas em Almeirim. Ele destacou que o Centro de Operações de Emergência já solicitou crédito extraordinário à Casa Civil para financiar pesquisas.
“A praga é pouco conhecida globalmente, e precisamos investir em estudos sobre sua biologia e formas de dispersão. Enquanto isso, estamos adotando medidas emergenciais, incluindo barreiras fiscais no Amapá, para evitar a disseminação por trânsito de material vegetal”, destacou Glauco Antonio Teixeira, representante do Ministério da Agricultura.
Estratégias
A promotora Alexssandra Muniz Mardegan propôs a criação de três frentes de atuação integrada para conter o avanço da praga, compostas por:
Pesquisa: mobilizar recursos para financiar estudos da Embrapa sobre a doença;
Campanha de conscientização: para divulgar informações em linguagem acessível sobre identificação da praga, seus riscos e formas de prevenção, com atenção especial à troca de sementes/manivas;
Barreira sanitária: para ampliar e intensificar a fiscalização do trânsito de material vegetal entre as regiões.
Além disso, a promotora defendeu a criação de um fundo estadual da mandioca, semelhante ao já existente para o cacau para garantir a liberação de recursos e pouco tempo, dentro em situações emergenciais. Entre as propostas, está ainda a criação de um canal de WhatsApp para que produtores possam enviar denúncias e tirar dúvidas de forma simples e direta.
O encontro contou com a participação de representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Instituto Federal do Pará (IFPA), além de secretarias municipais de agricultura dos 23 municípios da 3ª Região Agrária.