Uma praga devastadora, conhecida como monilíase, representa um risco imenso para a produção de cacau.Hoje restrita no Brasil a algumas áreas não comerciais e urbanas no Acre e Amazonas, é preciso pensar formas de prevenção da doença e a construção de barreiras sanitárias no País, já que a disseminação do fungo Moniliophthora pode significar o fim da cacauicultura brasileira.
O assunto foi debatido em audiência pública da Comissão de Agricultura (CRA) na quarta-feira, 11. Entre outras reivindicações, os prsentes pediram um esforço integrado na supressão da praga, agilidade no uso de recursos públicos e campanhas educativas para dificultar a circulação de cacau contaminado.
A monilíase, já presente em outros países da América do Sul, foi detectada no Brasil pela primeira vez em julho de 2021, no Acre. Passados quase quatro anos, a praga permanece relativamente contida, mas a preocupação é crescente, principalmente impedir sua chegada no Pará, maior produtor de cacau do País.
A natureza destrutiva do fungo pode levar a perdas de 70% a 100% da produção, impactando diretamente a renda de milhares de famílias que dependem do cacau.
“É uma doença devastadora e, se chegar aos principais estados produtores, é o fim da cacauicultura brasileira”, alerta a vice-presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC), Eunice Gutzeit.
Ela, que classifica a monilíase como “ameaça real e crescente”, afirmou que, apesar dos esforços da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) para o controle da praga, ainda há muito a fazer.
“Teremos em breve o Festival do Chocolate em Altamira [PA], e não temos nenhum protocolo fitossanitário. Pessoas vindas do Acre ou do Amazonas podem chegar, eventualmente, trazendo frutos. Realmente, o risco é enorme”, disse
Redução do desmatamento
Paulo Lima, gerente do Programa Amazônia da Fundação Solidaridad — organização civil de apoio a produtores, com atuação em 52 países — associou a preservação da produção de cacau com a redução do desmatamento.
“Há uma carência muito grande de informação e capacitação dessas famílias em relação à convivência com o fungo, a manejos mínimos fitossanitários, para garantir uma produtividade satisfatória comercialmente caso a monília entre no estado do Pará.
A coordenadora-geral de pesquisa e inovação da Ceplac, Karina Peres Gramacho, explicou a forma de disseminação do Moniliophthora roreri, alertando que nenhuma região cacaueira está livre do risco. Ela mostrou os resultados de parcerias da Ceplac com pesquisadores internacionais no enfrentamento da praga, mas alertou para a importância da extensão rural e da conscientização maciça dos produtores.
“A monilíase só será controlada se várias medidas de controle forem empregadas: controle químico, controle biológico, controle cultural. É um sistema complexo”, disse Karina
Com informações da Agência Senado