A educação no campo e a vivência de duas professoras que trabalham com comunidades extrativistas deram origem à Bioilha, indústria paraense que produz cosméticos com insumos regionais e valoriza a produção sustentável de comunidades ribeirinhas e indígenas.
Vanessa Costa e Danielly Leite, sócias da Bioilha, contam que a ideia do negócio que transformou suas vidas há seis anos surgiu de forma inesperada nas redes sociais, enquanto compartilhavam seu dia a dia.
“Tinha um perfil onde compartilhava meu dia a dia, as viagens para chegar aos interiores. Todos nós temos uma avó, mãe ou tia que conhece e faz remédios caseiros ou tem dicas sobre. Mas trabalhando diretamente com as comunidades você tem contato com os insumos puros e tem a oportunidade de sentir uma eficácia muito superior a alguns insumos já explorados por ai. Daí um dia uma pessoa perguntou se eu poderia enviar um litro de óleo de andiroba para ela”, diz.
A partir dessa primeira comercialização direta com o produtor, novos pedidos começaram a surgir, despertando uma ideia: se os bioativos amazônicos têm eficácia comprovada e vantagem competitiva real, muitas vezes superiores aos produtos do mercado, por que não investir? A intenção de unir sustentabilidade e inovação fez com que os primeiros passos foram dados com cautela.
“Iniciamos com a venda de óleos e sabonetes. Fui atrás de conhecer o processo de fabricação e fui aperfeiçoando o negócio da saboaria. O início desse negócio foi uma transformação de vida porque eu era concursada, mas não era totalmente feliz. Essa ideia me fez ir atrás de estudos sobre química, formulações e muito diálogo com as comunidades para criar produtos eficientes do ponto de vista científico e alinhado com a maneira que as comunidades também costumam usar”, explica.

Vanessa destaca que a estratégia da Bioilha vai além da extração e comercialização de ativos: o objetivo é construir um modelo de negócio sustentável e integrado às comunidades locais, gerando impacto social positivo. Atualmente, o empreendimento possui mais de 20 parceiros entre povos indígenas e comunidades extrativistas.
“O que ainda acontece muito é o desconhecimento sobre o potencial de alguns insumos locais. Daí a fruta ou semente ganha fama na grande indústria e só tempos depois a pessoa vai saber que é insumo amazônico, que dá para encontrar de forma mais acessível e fortalecendo o trabalho dos extrativistas”, comenta.
A presença da marca nas redes sociais segue firme, uma homenagem ao lugar onde tudo começou. Além de curiosidades, as redes da marca compartilham dicas sobre os produtos, oficinas com comunidades ribeirinhas e depoimentos de clientes.
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Valor, propósito e conhecimento
Para a dupla, a bioeconomia se torna real quando o conceito de floresta em pé se traduz em vantagens para toda a cadeia produtiva: desde a geração de emprego e renda na cidade até a oferta de cursos voltados às comunidades fornecedoras dos insumos.
Vanessa diz que, durante o desenvolvimento da marca, elas precisaram se aprofundar em formulações, processos químicos e marketing. Hoje, retornam às comunidades para compartilhar esse conhecimento e fortalecer outros empreendimentos locais.
“Não existe o conceito de concorrência. Se nós estamos vendendo na internet e em espaços físicos, eles vendem dentro da própria comunidade, gerando uma outra possibilidade de renda e trocas entre eles.
Para ela, esse ecossistema fortalece a floresta em pé e ajuda a enfrentar a crise climática que já estamos vivendo.
“Se quem vive na cidade sente mais calor que o normal, no interior isso pode significar rios secos e queda na produção das árvores. Acho que um ponto fundamental é deixar destacado que cada árvore em pé importa, mas se ela ajudar as famílias a terem renda e dignidade, vai ficar em pé por ainda mais tempo”, diz.
Com 15 produtos que combinam ativos presentes em frutas e sementes da Amazônia, como açaí, ucuuba, copaíba, pracaxi e andiroba, a Bioilha oferece opções voltadas à limpeza, hidratação e fortalecimento da pele e dos cabelos. Os itens podem ser encontrados em 15 pontos de venda na Grande Belém, além do site próprio e plataformas virtuais de vendas.

Em Belém, a marca mantém parcerias com pequenos empreendedores do setor de estética e integra roteiros turísticos na Ilha do Combu. Danielly afirma que a escuta ativa do consumidor orienta decisões importantes na formulação dos produtos.
“Estrategicamente, decidimos formular os produtos unindo nossos insumos com outros ativos muito famosos como a niacinamida, rosa mosqueta, óleo de coco. Observamos que eles ajudam a agregar valor e valorizar nossa matéria prima. Juntando isso com parceiras como esteticistas e depiladoras, recebemos sugestões e sempre recebemos retornos muito positivos, já que os produtos são veganos e sem essências sintéticas”, explica.
Novos horizontes
De cliente em cliente, os produtos da Bioilha já chegaram a países como China e França. Uma das etapas iniciadas em 2025 é a internacionalização da marca. Vanessa explica que há demanda e pedidos de clientes antigos, inclusive após a COP30, e que a empresa está avançando com cuidado nesse processo.
“É uma felicidade e uma responsabilidade muito grande esse novo passo, então estamos trabalhando de forma cuidadosa. Enquanto trabalhamos em cada documentação, existe a alegria de ter todo esse trabalho chegando mais longe e representando tanta gente”, conta.



