O Observatório das Baixadas (OBx), criado em Belém para traduzir a crise climática a partir da realidade das periferias amazônicas, prepara-se para iniciar um projeto ambicioso: o Censo Climático. A primeira fase do censo começa em janeiro de 2026, no bairro da Terra Firme, com o objetivo de realizar um levantamento detalhado sobre os impactos climáticos e a infraestrutura local.
Na prática, o trabalho do OBx reforça que as respostas urgentes para a crise precisam nascer dos próprios territórios, gerando dados que evidenciam como os efeitos do calor extremo e dos alagamentos são sentidos diariamente pelas comunidades.
O projeto tem o objetivo de fazer um levantamento detalhado de informações sobre os impactos climáticos, infraestrutura, áreas de risco, acesso à água, saúde e espaços verdes do bairro. A partir desses dados, serão elaborados indicadores que refletem a realidade climática das baixadas, configurando um projeto piloto construído junto à própria comunidade.
O OBx foi lançado oficialmente em setembro de 2024 a partir da iniciativa dos jovens moradores de Belém, Waleska Queiroz e Andrew Leal, e co-fundação de Thuane Nascimento (PerifaConnection) e Jean Ferreira (COP das Baixadas). Juntos, eles desenvolveram uma plataforma independente voltada para acompanhar, fortalecer e amplificar a voz das periferias amazônicas frente aos desafios climáticos.
“A adaptação climática só pode avançar de fato quando parte das realidades mais expostas à crise, especialmente aquelas onde seus efeitos já são sentidos no presente,” explicou Waleska Queiroz, cofundadora e coordenadora de Relações Institucionais do observatório, ao IPAM.
Ela destacou que, em periferias e baixadas, os impactos se manifestam em alagamentos constantes, calor extremo, falta de água e infraestrutura frágil.
Ações práticas para a Amazônia
O Observatório das Baixadas desenvolve ações voltadas à justiça climática nas periferias amazônicas, produzindo dados que evidenciam como a crise climática afeta esses territórios. A comunidade participa diretamente.
“Moradoras e moradores contribuem ao relatar situações como alagamentos, ondas de calor, falta d’água e falhas de infraestrutura, permitindo que essas vivências se convertam em informações úteis para instrumentos como o Atlas das Baixadas e para a formulação de políticas públicas,” disse Waleska.
O trabalho envolve:
- Pesquisa aplicada: Oficinas, rodas de conversa e cartografias sociais.
- Incidência política: Inserir as demandas das baixadas nos debates públicos.
- Monitoramento: Levantamento de riscos, considerando saberes ancestrais e modos de vida locais.
- Formação: Fortalecimento de jovens pesquisadores periféricos em temas como clima, raça, gênero e tecnologia.
O futuro no Observatório
Além da realização do Censo Climático, o programa Atlas das Baixadas seguirá sendo atualizado, incorporando novas camadas, com a participação ativa da população, além de avançar na sua expansão para outras regiões do País.
“Quando a comunidade participa das atividades do Observatório, passa a integrar diretamente a construção coletiva do nosso trabalho, que nasce sempre do diálogo com os territórios. Moradoras e moradores contribuem ao relatar situações como alagamentos, ondas de calor, falta d’água e falhas de infraestrutura, permitindo que essas vivências se convertam em informações úteis para instrumentos como o Atlas das Baixadas e para a formulação de políticas públicas”, disse Waleska.
Além disso, ela disse que o apoio pode vir de diferentes formas: doações de equipamentos, disponibilidade de tempo, troca de conhecimentos ou participação nas campanhas digitais, “que ajudam a ampliar a visibilidade das pautas e a fortalecer a pressão por ações mais justas para as periferias”.
O OBx continuará promovendo o projeto de simulação de negociações climáticas em escolas e comunidades e desenvolverá novas ações com foco nas mulheres por meio do Grupo de Trabalho de Raça e Gênero. Essa abordagem reforça a perspectiva interseccional na agenda climática e fortalece a participação comunitária na busca por soluções mais justas.


