A contagem regressiva para a rastreabilidade obrigatória do rebanho até o final de 2026 está redesenhando o cotidiano da pecuária no Pará. Os produtores rurais paraenses têm pouco mais de um mês até o início do prazo oficial que tornará obrigatória a identificação de bovinos e bubalinos com brincos — visual e eletrônico — e a regularização da Guia de Trânsito Animal (GTA).
A medida, que passa a valer a partir de 1º de janeiro de 2026, está prevista no Sistema de Rastreabilidade Bovídea do Pará (SRBPA), parte do Programa Pecuária Sustentável do Pará,
Grandes produtores como a Agro Cumaru, porém, mostram que a mudança vai além da exigência legal, se transformando uma ‘virada de chave’ para competir em um mercado global cada vez mais atento à sustentabilidade.
Por pensar assim, a Agro Cumaru fez história recentemente pelo fornecimento do primeiro lote de carne bovina com rastreabilidade individual para uma rede de varejo no Pará.
Com mais de duas décadas de atuação nas cidades de Cumaru do Norte e Santa Maria das Barreiras, no sul do estado, o grupo administra 72 mil hectares e maneja mais de 80 mil cabeças de gado no Pará, além de cultivar 18 mil hectares de soja, milho e sorgo.

O empreendimento começou com o pai e agora é liderado pelos irmãos Camila Mafra e Carlos Mafra Júnior, que estão alinhando os negócios com estratégias de sustentabilidade para se fortalecer na atividade. Carlos Júnior, o diretor financeiro da Agro Cumaru, trabalha diretamente no campo e conta ao Pará Terra Boa a importância do SRBIPA.
Para ele, a rastreabilidade representa uma mudança inevitável e necessária na pecuária brasileira, enxergando como um movimento conjunto entre governo, indústria e produtores, capaz de conectar toda a cadeia produtiva, do nascimento do animal à mesa do consumidor.
“É uma inovação enorme. Traz segurança para quem compra e comprova que o que produzimos aqui é realmente sustentável”, afirma.
Carlos Júnior explica que parte das práticas que hoje passam pela certificação já são adotadas rotineiramente nas fazendas do grupo, mas o selo oficial dá visibilidade, confiança e transparência.
“De forma privada, os custos do rastreamento podem variar entre R$ 7 a R$ 25 reais por cabeça, no mínimo, mas dependendo das tecnologias utilizadas para a verificação e manutenção de cada etapa, o preço de todo o processo entra na casa dos milhões de dólares. A grande questão da política pública do rastreamento é que ela cria um padrão nacional, que além de gerar confiança para quem compra, gera economia para quem produz”, diz.
Rastreabilidade como ferramenta de integração
Ao detalhar a economia para o produtor, ele menciona que quando tudo é feito de forma privada, cada pecuarista tende a criar um próprio caminho para a implantação das etapas que compõem o rastreamento, gerando pequenas diferenças na hora de mensurar resultados.
“É como os galhos arrancados de uma árvore: parecidos, mas com formas, folhas e frutos diferentes. Ai quando vemos a implantação do rastreamento como política, é como se esses galhos estivessem integrados a uma árvore viva, recebendo a nutrição e as informações que precisam. Estabelecer essa norma a nível nacional é muito importante para todos, mais do que pensamos até”, comenta.
A partir de 2032, quando o Programa Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB) prevê que todos os animais do País terão uma espécie de “RG”, com o histórico de cada indivíduo, a rastreabilidade será um realidade.

Para o pecuairsta, parte do setor já está se adaptando por sentir na pele o peso das mudanças climáticas e o movimento internacional em forma de exigências, impactando negócios e lucro.
“A certificação ajuda a promover a exportação. O Brasil já produz de forma sustentável, isso é um fato. A rastreabilidade apenas deixa isso claro para o mundo.”
O que o produtor tem a ganhar?
O executivo diz que, em termos simples, o maior ganho é para o agro como comunidade. Ele menciona que existe o costume popular de se ver grandes e pequenos produtores como categorias separadas, mas que essa diferença não deveria existir.
“Todos que querem trabalhar de forma correta precisam seguir regras e em troca, podem ser beneficiados por políticas públicas e investimentos. Mesmo os maiores produtores do Brasil se beneficiam das políticas públicas, então nesse momento de mais transparência, é fundamental que todos andem juntos para entender as necessidades dessa nova fase. No fim, é sempre o produtor e o pasto, independente de quanto ele lucra”, diz.
A segurança jurídica, segundo ele, é algo determinante que pode ajudar ainda mais na campanha de adesão aos programas de rastreamento.
“Ninguém vai onde se sente inseguro e onde pode ter prejuízo, essa união entre vários agentes do meio ambiente, mercado, governo e consumidores ajudam a mudar esse pensamento de temores”, destaca.
Por fim, Carlos Júnior diz que o rastreamento como caminho do ‘novo agro’ não é apenas uma tendência, mas uma responsabilidade nacional.
“Certificar o que já fazemos no dia a dia é fundamental. A rastreabilidade traz segurança para o consumidor brasileiro e internacional. É ela que mostra para o mundo que produzimos de forma verde, de forma responsável.”
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