Quem esteve em Belém entre os dias 10 e 22 de novembro, durante a realização da 30ª Conferência do Clima da ONU, pode ver o deslumbramento dos visitantes com as belezas e o acolhimento caloroso do paraense. Dentro do Parque da Cidade, também fizemos bonito: a COP30 entregou mais e melhores resultados que as últimas conferências climáticas.
A pavulagem está liberada e podemos provar porque. Saíram os tão esperados mapas do caminho para acabar com o desmatamento até 2030 e para o afastamento dos combustíveis fósseis.
Os petroestados bateram o pé e recusaram a inclusão nos textos oficiais? Pois bem: a Colômbia propôs uma conferência alternativa e a presidência brasileira endossou. Para arrematar, o presidente Lula, que está na África do Sul no encontro do G20, falou para as 20 maiores economias do mundo: “É do G20 que um novo modelo de economia deve emergir. O grupo é um ator chave na elaboração de um mapa do caminho para afastar o mundo dos combustíveis fósseis. A COP30 mostrou que o mundo precisa enfrentar esse debate. A semente dessa proposta foi plantada — e irá frutificar, mais cedo ou mais tarde”.
Nunca antes na história das COPs os fósseis foram abordados com tanta intensidade como em Belém. Não custa lembrar que a queima deles é a principal causa do aquecimento global. Apesar disso, eles só foram abordados diretamente na COP28, dois anos atrás. Agora, demos o pontapé inicial para resolver o problema. Ponto para nós.
A COP30 também foi a primeira a reconhecer os direitos dos povos indígenas e afrodescendentes em seus textos oficiais. Foi, de fato, “COP da Adaptação”, apresentando um pacote de decisões sem precedentes – a começar pela adoção de indicadores que permitirão medir a eficiência da ação climática não apenas em toneladas de carbono evitadas, mas em vidas protegidas e infraestrutura capaz de resistir ao que está por vir.
Quer mais? A presidência mobilizou 117 planos para acelerar soluções em larga escala, envolvendo setores em todo o Brasil e no mundo, mostrando que sozinhas as negociações da ONU não vão resolver o problema.
Mobilizou as pessoas: depois de três conferências seguidas em regimes fechados, Belém foi um show de democracia e inclusão, com as mais diversas manifestações pelos variados temas ligados ao enfrentamento da crise climática.
As imagens da Marcha pelo Clima, assim como a foto do presidente da COP segurando uma criança indígena no colo, entraram para história de Belém, do Pará e do Brasil.
Tivemos também o lançamento do TFFF (sigla em inglês para Mecanismo Florestas Tropicais para Sempre), reconhecido internacionalmente com uma das mais inovadoras soluções para a conservação de nossas florestas.
Podia ter sido melhor? Podia. O principal ponto de frustração é a ausência de um plano de mitigação com “músculo”. Embora o documento reconheça que precisamos reduzir as emissões globais em até 60% até 2035 para limitar o aquecimento a 1,5 °C, ele não impõe a eliminação do petróleo, gás e carvão, focando apenas no alinhamento de estratégias nacionais. As novas metas de redução apresentadas pelos países não são suficientes.
Para os cientistas presentes na COP30, a omissão foi vista como um risco existencial. De acordo com eles não é possível evitar um aumento da temperatura global sem acabarmos com a dependência de combustíveis fósseis até 2040, ou no mais tardar até 2045.
Mas vamos lembrar o cenário mais amplo em que esta conferência aconteceu. Em um ano de guerras comerciais e fortes tensões internacionais, em que os países olham com desconfiança um para o outro. Apesar disso, graças à habilidade do diplomata André Côrrea do Lago e de Ana Toni, o espírito de cooperação na COP foi tão forte que, mesmo as ressalvas feitas na plenária final que levaram a uma interrupção, foram superadas após um breve intervalo.
Para quem achou que Belém não entregaria uma boa conferência, a COP30 foi o resultado mais contundente e concreto. Apesar de todas as dificuldades logísticas, apesar do fogo e das chuvas, o mundo se rendeu às belezas amazônicas. Que as boas energias da floresta acompanhem todos os negociadores para que, nas próximas negociações, eles consigam fazer o mundo avançar mais e mais rápido em direção à nossa segurança e de nossos filhos.
Belém colocou o sarrafo das próximas COPs lá em cima. Que venha a COP31!


