Reta final das negociações da COP30 e aumenta a pressão de movimentos sociais e organizações da sociedade civil por medidas concretas, especialmente o fim dos combustíveis fósseis. Na manhã desta quarta-feira, 19, início do novo dia, a Zona Azul teve manifestações internas e externas com palavras de ordem exigindo o fim da queima de petróleo, responsável por 75% da crise climática global.
Mas a maior crítica veio do Pavilhão da Ciência Planetária da COP30. Cientistas de renome global lançaram uma declaração que classifica como “provocação” o rascunho do texto sobre o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis. Liderados por John Rockstrom e Carlos Nobre, os pesquisadores criticaram duramente a proposta por estar “totalmente fora da realidade” da crise climática, pois não contempla o corte necessário de emissões. Eles alertaram que os negociadores precisam entender que um roteiro é um “plano de trabalho real” e não apenas um workshop ou reunião. Além disso, a presidente do Conselho Científico da COP30, Thelma Krug, destacou a gravidade da situação: sem a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, as florestas, que já estão emitindo carbono, podem perder a capacidade de sobreviver e prosperar.
O grupo científico, que inclui nomes como Paulo Artaxo e Marina Hirota, apresentou um ultimato com metas concretas: a curva global de emissões de gases de efeito estufa precisa começar a cair já em 2026 e ser reduzida em pelo menos 5% ao ano. Segundo os cálculos, essa é a única maneira de evitar impactos climáticos incontroláveis. A meta final é chegar o mais próximo possível de emissões zero absolutas de combustíveis fósseis até 2040, no máximo até 2045. A declaração conclui com uma exigência direta aos delegados: “A COP30 tem uma escolha a fazer: proteger as pessoas e a vida ou proteger a indústria do petróleo”.
Lula e o mapa do caminho
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a Belém e reuniu-se nesta quarta-feira com membros da sociedade civil na COP30, incluindo cientistas, líderes indígenas e representantes de organizações globais. A principal demanda apresentada foi que o “caminho” (road map) para a superação dos combustíveis fósseis seja incluído no texto decisório final da conferência, algo que estava ausente no primeiro rascunho. Relatos indicam que a intervenção de Lula motivou delegações, como a da China, a consultarem seus governos sobre o assunto, embora ainda haja resistência entre os países árabes.
Em uma declaração para jornalista, Lula não antecipou o fechamento de um acordo final na COP30, mas expressou estar “muito feliz” com os resultados alcançados pela Cúpula até o momento, reafirmando sua certeza de que o documento decisório oferecerá “o melhor resultado“ para o planeta. Em sua fala, o presidente destacou novamente a relevância de o evento ser realizado em Belém, no Pará, afirmando que a conferência deu visibilidade internacional à cidade, mostrando que “não só existe uma cidade chamada Belém, que é onde nasceu Jesus Cristo, mas que existe Belém do Pará, do povo brasileiro”.
Turquia deve vai sediar próxima COP
Ainda não é oficial, mas todos dão como certo que a Turquia sediará COP31, no ano que vem. Após meses de disputa nos bastidores, a Austrália teria desistido da sua candidatura. Segundo Jochen Flasbarth, chefe da delegação alemã, os dois países chegaram a um acordo inédito, compartilhando a chefia do evento. A Cúpula dos Líderes, as negociações da COP31 e a presidência ficam com a Turquia, enquanto os eventos pré-COP e a chefia das negociações vão ocorrer no Pacífico. A ver.
E o Fóssil do Dia vai para …
A União Europeia (UE) foi premiada com o “Fóssil do Dia” nesta quarta-feira pela rede internacional de ONGs CAN (Climate Action Network), devido à sua atuação de obstrução e evasão nas negociações da COP30. A CAN criticou a UE por se apresentar como “líder climática”, mas na prática agir como uma “bloqueadora profissional” de progressos. A justificativa para o antiprêmio incluiu o comportamento da UE em relação ao financiamento climático e a uma atitude de “duas-caras” na transição justa, pois, apesar de fazer “longos discursos sobre ‘alta ambição’”, ela se recusa a fornecer o financiamento público previsível e em forma de doações necessário para muitos países em desenvolvimento. A CAN ironizou: “A ambição é barulhenta; o dinheiro é silencioso.” Além da UE, a Arábia Saudita recebeu uma menção desonrosa por tentar minar os alicerces da ação climática global e reduzir os direitos humanos em questões de perdas e danos a uma nota de rodapé. Quem tambem recebeu a menção desonrosa foi o chanceler alemão, Friendrich Merz, por ter feito comentários pejorativos sobre Belém nos últimos dias.
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