O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou, na quarta-feira (12), um aporte financeiro de R$ 912 milhões durante a COP30, com o objetivo de impulsionar a restauração florestal no Brasil. O anúncio reforça a urgência do investimento, especialmente considerando a meta nacional de regenerar 12 milhões de hectares de mata nativa até 2030.
No entanto, um estudo divulgado pelo Imazon, nesta semana, revela a magnitude do desafio. A proteção das florestas em regeneração natural é fundamental para o cumprimento dessa meta, pois é a forma mais econômica de restaurar a Amazônia. Contudo, entre 2014 e 2024, 2,7 milhões de hectares de vegetação secundária – com seis anos ou mais – foram perdidos, área que equivale a mais que o dobro do município de Altamira, o maior do país.
Vegetação secundária é a cobertura vegetal que surge e se regenera em áreas anteriormente degradadas por desmatamento, queimadas ou uso intensivo da terra.
“Não temos feito devidamente o nosso dever de casa (de proteger as florestas em regeneração). A floresta tropical é muito resiliente, mas cada vez que a vegetação é suprimida, menor é a sua capacidade de regeneração, principalmente em casos em que o desmatamento é associado ao uso do fogo”, afirma o autor do estudo e pesquisador do Imazon, Paulo Amaral.
Esse desmatamento médio de 247 mil hectares por ano já compromete 23% da meta nacional de restauração.
Desafio financeiro
O estudo do Imazon dimensiona o custo de recuperar essa área devastada com diferentes técnicas. Para restaurar os 2,7 milhões de hectares, seria necessário cerca de US$ 151 milhões (R$ 814 milhões) em um cenário de regeneração natural (apenas com proteção contra eventuais distúrbios), e US$ 6,2 bilhões (R$ 33 bilhões) com o plantio total de mudas.

Embora o valor total previsto para o Projeto Arco da Restauração do Governo (R$ 1 bilhão) cubra a estimativa mínima da regeneração natural, o custo real da recuperação, especialmente em métodos como a da regeneração natural assistida – que pode chegar a R$ 7,5 bilhões -, evidencia a insuficiência dos recursos atuais.
Os dados mostram que o desmatamento dessa vegetação secundária é majoritariamente responsabilidade do setor privado: 77% das perdas ocorreram em imóveis rurais privados (CAR e Sigef). Além disso, 87% da área desmatada, em 2024, foi convertida para agropecuária (pastagem e lavouras), reforçando que a proteção e a restauração precisam ser prioridades no campo.
A pesquisadora Andréia Pinto, do Imazon, reforça que a proteção de áreas é uma medida efetiva para o cumprimento das metas.
Entre as recomendações do estudo para proteger a vegetação secundária estão a criação de um sistema de monitoramento em tempo real, a integração do risco de fogo das restaurações na Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo e a implementação de incentivos econômicos locais, vinculados à proteção de áreas restauradas.
Além disso, para dar escala à recuperação das áreas desmatadas, a pesquisa orienta a promover concessão para restauração florestal em terras públicas.


