Belém saiu da COP30 direto para o ritmo acelerado do ciclo das festas de fim de ano. Enquanto parte da população inicia uma corrida contra o tempo em busca de presentes e lembrancinhas para familiares e amigos, a outra parcela do público aproveita as folgas dessa época para viajar e conhecer novos lugares.
Segundo o Google Trends, ferramenta da plataforma de buscas que monitora o interesse do internauta com base nas pesquisas dos usuários, o interesse global na capital paraense esteve em alta durante todo o ano, com pico absoluto durante a conferência do clima, em novembro. Mas e quem só pode visitar a cidade no último mês do ano, será que perdeu algo?
O Pará Terra Boa foi às ruas e criou um roteiro baseado nas recomendações de quem vive a cidade intensamente, para você não ficar de fora dos pontos turísticos essenciais. A ideia é experimentar o clima de fim de ano em plena Amazônia.
História com toque especial
Ana Soares, que trabalha no Forte do Presépio, explica que o local mantém o funcionamento normalmente durante o fim do ano, de terça-feira a domingo, de 9h às 17h, fechando às segundas-feiras e feriados.
“Aqui sempre tem alguma exposição ou algum evento cultural, porque os moradores também visitam muito. Então se você vier aqui em dois momentos durante o ano, nas duas vezes verá coisas diferentes porque além do acervo fixo, também tem a programação circular”, conta.
Ela explica que o Forte faz parte do Complexo Feliz Lusitânia, que também reúne a Casa das Onze Janelas, a Catedral Metropolitana de Belém, Igreja de Santo Alexandre e todo o entorno como as ruas e a praça Frei Caetano Brandão.
“Cada pedaço desse perímetro conta a origem da cidade de forma muito única, então embora dê para visitar cada lugar separadamente, quando a gente nota que a pessoa vai ficar um tempo a mais na cidade, recomendamos tirar uma manhã para conhecer com calma todo o entorno”, conta.

Há duas formas de conhecer o forte: espontaneamente, em que cada pessoa visita o local separadamente, e a agendada, geralmente feita por grupos turísticos e escolas. No fim de ano, em particular, Ana destaca que existem programações que deixam a região ainda mais vibrante.
“Tanto a gestão municipal quanto os grupos culturais costumam ocupar toda essa região à noite com shows e programações culturais com essa pegada mais natalina. Então dá para conhecer uma versão da cidade e do centro histórico durante o dia e outra durante a noite. A maioria dos moradores que trabalha até bem pertinho das festas costuma fazer isso: aproveitar todas as atrações da cidade depois do expediente e vai para a praia na véspera de Natal e Ano Novo”, comenta.
Peixe frito com açaí garantidos o ano todo
Na maior feira a céu aberto da América Latina, o Mercado do Ver-o-Peso, mais de 50 mil pessoas circulam todos os dias. São feirantes, atravessadores, visitantes, turistas e trabalhadores do Centro Comercial de Belém.
Segundo a Secretaria Municipal de Economia de Belém (Secon), há aproximadamente 5 mil pessoas trabalhando diariamente no local. O número contempla feirantes cadastrados nos boxes oficiais, permissionários e outros vendedores que trabalham em áreas anexas do local.

Ulisses Silva, responsável pela Barraca do Loro, vende peixe frito e açaí diariamente e garante que não existe pausa no local. Então é possível garantir a refeição clássica do paraense todos os dias do ano.
“A gente está na parte mais pulsante da cidade, o coração mesmo. Tem gente chegando e saindo a todo momento com peixe, farinha, frutas, perfumes, roupas, de tudo. Nós temos a nossa família, mas o Ver-o-Peso também é uma grande família. A gente ri, chora, comemora e brinca junto o ano inteirinho. Se tu vieres aqui nos dias de Natal e Ano Novo pode ter certeza que vai ter o almocinho garantido e da maior qualidade, capaz de ainda levar um brinco, pulseira, roupa nova pra começar 2026 no estilo”, destaca.
A área de alimentação do Ver-o-Peso é amplamente frequentada e oferece opções de refeições a partir de R$ 20. O grande diferencial, segundo os proprietários, é ouvir atentamente os clientes. Ulisses explica que os frequentadores da feira consomem mais de 200 quilos de peixe e quase 300 quilos de açaí diariamente apenas na sua barraca.

“Açaí com peixe, camarão, carne assada, farinha de tapioca e da baguda, a gente faz o ano todo, mas se tu chegares aqui amanhecido de uma festa querendo uma tapioca docinha, molhada com leite de coco ou até uma rabanada, tu acha, sempre tem alguém que faz”, conta.
Além do mercado, o complexo arquitetônico e paisagístico de 25 mil metros quadrados inclui a rua Boulevard Castilhos França, o Mercado Bolonha de Peixe, Mercado da Carne, Praça do Relógio, Doca do Ver-o-Peso, Feira do Açaí, Solar da Beira e a Praça Dom Pedro II, que possui três monumentos tombados: o Palacete Azul, o Palácio do Governo e a Casa do Barão de Guajará.
Foco na experiência
A Estação das Docas, local escolhido por centenas de moradores e visitantes para apreciar a vista da Baía do Guajará, também reúne restaurantes, quiosques e exposições itinerantes. Quer algo ainda melhor? O espaço possui sua própria festa de Ano Novo, totalmente gratuita, reunindo em torno de 50 mil pessoas.

Ivan Guedes, que trabalha como garçom em uma cervejaria do local, resume a experiência de trabalho no fim de ano como intensa e alegre.
“Se tu estás chegando em Belém agora, dá um pulo aqui com a gente. É aquela correria de Natal com ritmo de carimbó e rock doido (termo usado para se referir às festas de aparelhagem). Sempre tem o que fazer na cidade, mas agora no fim de ano, tu vê Papai Noel dando tremidinha”, brinca. “É muito puxado trabalhar nessa época, mas duvido tu não chegar em casa rindo de alguma coisa porque além da ocasião, que é o Natal, o Ano Novo, a gente é muito apaixonado nas nossas coisas e mete nossa música e nosso jeito de festejar em tudo”, diz Ivan.
Habitualmente, o local funciona todos os dias a partir das 10h. Entretanto, há adaptações no mês de dezembro devido aos feriados. Uma delas é para a festa de Ano Novo do espaço, uma das maiores da capital paraense. Na última edição, foram nove horas de música e comemoração, incluindo contagem regressiva e show pirotécnico.
Guilherme Neves trabalha como professor em Cachoeira do Arari, no Arquipélago do Marajó, e sempre volta para Belém no fim de ano, para passar o período festivo com familiares e amigos.
“Eu amo me sentir turista na minha cidade. Tem os lugares clássicos que a gente cresce amando, mas sempre tem uma coisinha nova pra gente aproveitar e eu sou apaixonado por isso. Em casa, já é lei: chego lá pelo dia 10 ou 15, ajudo a arrumar a festa na casa da minha mãe. No dia 31, a gente vira o ano na Estação das Docas, aproveita horrores, dá ‘Feliz Ano Novo’ pra todo mundo e depois volta pra casa e continua a festa da família. Eu espero o ano todo por esse momento”, destaca.
Que tal colocar os pés na areia?
A 20 minutos de barco do Distrito de Icoaraci, em Belém, a Ilha de Cotijuba é um refúgio procurado por moradores e visitantes o ano inteiro, mas na época das festas, a visita ganha ares de renovação e conexão com a natureza. O motivo? A circulação de carros de passeio na ilha só é permitida para serviços essenciais como saúde e segurança. Lá, o transporte é feito pelas ‘motorretes’, motos adaptadas para o transporte de pessoas. A travessia custa a partir de R$ 9 com viagens a partir das 9h, todos os dias.

Evelyn Vianna trabalha em uma pousada na ilha e diz que os primeiros dias do ano se assemelham ao mês de julho, devido ao intenso movimento tanto nas hospedagens como no restaurante.
“Além da pousada, nós temos um restaurante que atende o pessoal da praia e é sempre muito movimentado. Chega a gente precisa contratar mais pessoal pra dar conta da demanda. Isso acontece porque quem tem mais tempo se hospeda direto, fica Natal, Ano (Novo) ou os dois. Já quem mora aqui e vem de Belém, Ananindeua, Marituba ou mais longe já vem virado pra aproveitar o primeiro dia na praia. Igualzinho julho, mas com aquela magia especial de começar um ano novo com os pés na areia e desejando coisas boas pra nossa vida em um novo ciclo”.
A estudante conta que mesmo que a ilha tenha guias nos pontos turísticos, gosta de conversar com os hóspedes e contar um pouco mais sobre a história de onde nasceu e vive. Desta forma, quem vai ao local apenas para conhecer as praias volta com um pouco mais de conhecimento sobre Cotijuba.
“Tenho muito orgulho de viver aqui e, sempre que tenho abertura com os hóspedes, conto alguma curiosidade da cidade. Eu amo viajar no meu tempo livre e gosto dessas informações que são históricas, mas que vêm da boca do cidadão, sabe? Fica escancarado como a pessoa aprecia de verdade aquele lugar”.

Uma das principais curiosidades que Evelyn gosta de contar é sobre a origem da ilha e seus primeiros habitantes, os indígenas Tupinambás. Ela lembra que eles deram o nome de Cotijuba, que significa ‘trilha dourada’, homenageando o solo arenoso da região.
“Minha parte preferida de estudar, trabalhar e gostar de viver o turismo é ver que aqui em Belém não existe muito essas áreas somente para turistas, sem a presença do povo. Em todo lugar que a gente vai passear aqui dentro tem turista do Brasil, de fora e daqui de dentro mesmo, ribeirinho ou do interior. Pra quem viaja, isso é como um abraço, sinal de acolhimento real”, celebra.


