Nestes primeiros dias da COP30, sob um calor que superou os 36 °C, Belém viu-se no centro de uma polarização de dados: de um lado, um diagnóstico crítico da sociedade civil sobre a desigualdade climática; do outro, a defesa da prefeitura da cidade sobre seus novos planos de ação.
O Painel de Dados Climáticos RMB, plataforma que mapeia a vulnerabilidade da Região Metropolitana de Belém, lançado nesta segunda-feira (10), aponta que a crise climática não é neutra: as altas temperaturas e as inundações atingem as populações negras e periféricas de forma desproporcional. A análise revelou que 72% das crianças negras na capital correm risco de inundação.
Fruto de um intercâmbio entre pesquisadores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e da Região Metropolitana de Belém, a plataforma revela que a RMB e, especialmente, a capital Belém, apresenta alguns dos piores indicadores urbanos do país. Belém está entre as três piores capitais com a menor cobertura de saneamento básico do país, uma das capitais com menor área verde por habitante, baixa taxa de arborização urbana e a maior proporção de moradores vivendo em favelas e comunidades urbanas.
Esses indicadores revelam um profundo déficit histórico de investimento em infraestrutura, planejamento urbano e políticas de justiça territorial.
O outro lado
Do outro lado, a Prefeitura de Belém afirma estar em curso uma série de ações concretas voltadas à sustentabilidade, à adaptação climática e à melhoria da qualidade de vida da população.
Os programas fazem parte do Plano Local de Ação Climática de Belém (PLAC) – construído em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – e do Plano Municipal de Redução de Riscos e Desastres (PMRR), alinhados às metas nacionais e globais de enfrentamento às mudanças climáticas.
As ações municipais se concentram em frentes prioritárias definidas pelo Inventário de Gases de Efeito Estufa (IGEE), que apontam o transporte (50%), o consumo de energia (25%) e os resíduos sólidos (23%) como principais fontes de emissão. A prefeitura promete:
- Arborização: Será lançado o maior programa de reflorestamento urbano da cidade, com o plantio de 200 mil novas árvores, visando reduzir ilhas de calor.
- Mobilidade e Energia: A cidade busca financiamento para ampliar a frota de ônibus elétricos e a malha de ciclovias, além de investir na implantação de usinas solares e na transição energética.
- Resíduos e Adaptação: A prefeitura busca financiamento para tecnologias de tratamento de lixo e está estruturando cooperativas de recicláveis. No combate a riscos como inundações, o município aposta em soluções baseadas na natureza, como jardins de chuva, corredores ecológicos e a renaturalização de canais.


