Por Tereza Coelho
Em um discurso que defendeu o valor econômico das florestas de pé, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou oficialmente o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) durante a Cúpula do Clima, em Belém, nesta quinta-feira (6), primeiro dia do evento. A iniciativa brasileira, que busca transformar a conservação em um ativo financeiro global, recebeu um forte endosso internacional logo em seu nascimento. A Noruega confirmou o maior aporte individual até o momento, com um investimento de cerca de US$ 3 bilhões. Ao todo, o fundo já tem a promessa de US$ 5,5 bilhões em investimentos.
“As florestas valem mais em pé do que derrubadas. Elas deveriam integrar o PIB dos nossos países. Os serviços ecossistêmicos precisam ser remunerados, assim como as pessoas que protegem as florestas. Os fundos verdes internacionais não estão à altura do desafio”, disse Lula, sublinhando que o TFFF não se baseia em doação.
O TFFF é desenhado para ser uma ferramenta inovadora de capital misto, alavancando recursos soberanos e privados. A proposta pretende alcançar inicialmente US$ 25 bilhões com a adesão de governos e US$ 125 bilhões com a atração de capital da iniciativa privada.
O Brasil já havia anunciado um aporte de US$ 1 bilhão. Na Cúpula de Líderes, a Noruega confirmou um investimento robusto de US$ 3 bilhões, e a Indonésia anunciou a contribuição de US$ 1 bilhão.
Com esses e outros aportes – como o de 1 milhão de euros de Portugal e os US$ 5 milhões dos Países Baixos para custos de implementação –, o TFFF é ativado com mais de US$ 5 bilhões em capital inicial, superando a barreira para atrair grandes investidores e, arrecadando mais da metade do valor previsto para este ano, cuja meta é US$ 10 bilhões, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O ministro do Clima e do Meio Ambiente da Noruega, Andreas Bjelland Eriksen, demonstrou expectativas positivas com o futuro do TFFF e com o papel de liderança do Brasil em conduzir os diálogos.
“Estamos muito orgulhosos em anunciar os US$ 3 bilhões (de aporte) porque o TFFF é exatamente o que o mundo precisa. Agora o ponto principal é criar incentivos para engajar mais países e alcançar as metas. O Mutirão que o Brasil propôs é muito importante para incentivar o diálogo e a cooperação entre os países, e eu estou feliz e orgulhoso de fazer parte deste momento”, declarou.
Além dele, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que este passo é um indício importante para o objetivo do Brasil com a realização da COP30.
“Queremos que essa COP no Brasil seja a COP da implementação. Ver os resultados que conseguimos ainda durante o lançamento oficial do TFFF é um indício muito positivo, que deixa claro que estamos no caminho para fazer anúncios ainda maiores nas próximas semanas”, destaca.
Os recursos gerados a partir dos investimentos financiarão a manutenção dos ambientes de floresta preservados por hectare. O fundo pagará aos países US$ 4 por hectare preservado, monitorando o cumprimento da meta de desmatamento abaixo de 0,5% em mais de 70 nações.
O presidente Lula lembrou que o TFFF terá um modelo de governança inovador, hospedado pelo Conselho do Banco Mundial, e garantirá que um quinto dos lucros seja destinado diretamente aos povos indígenas e comunidades locais, reconhecendo seu papel essencial na proteção ambiental.
Abertura
Ao discursar diante de chefes de Estado, líderes e representantes de dezenas de nações na abertura da Cúpula dos Líderes, Lula afirmou que a conferência realizada pela primeira vez num país amazônico pretende inaugurar um novo paradigma em relação ao enfrentamento da mudança do clima.
Para ele, a ciência deve ser o principal guia das decisões e é chegado o momento de as lideranças deixarem claro que estão prontas para o desafio posto.
“Acelerar a transição energética e proteger a natureza são as duas maneiras mais efetivas de conter o aquecimento global. Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”, disse
O presidente voltou a reivindicar a quantia de US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 6,9 trilhões) para financiar a adaptação climática, sobretudo para os países mais vulneráveis. E, mais uma vez, Lula falou da importância de se realizar uma COP na Amazônia.
“A gente tem que agradecer a disposição de fazerem essa COP da Amazônia na Amazônia. Muita gente não acreditava que fosse possível trazer, para um estado da Amazônia, uma COP, porque as pessoas estão mais habituadas a desfilar por grandes cidades. E nós resolvemos que a Amazônia para o mundo é como se fosse uma Bíblia: todo mundo sabe que existe e interpreta cada um da sua forma. E nós queríamos que as pessoas viessem aqui para ver o que é a Amazônia, para ver o que é o povo da Amazônia, a natureza da Amazônia, a culinária da Amazônia”.


