As emissões brutas de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil registraram uma queda de 16,7% em 2024, atingindo 2,145 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO₂e), contra 2,576 GtCO₂e em 2023. Essa é a segunda maior redução nos índices de poluição climática do país desde o início das medições (1990), perdendo apenas para o recuo de 17,2% registrado em 2009.
Os dados são da 13ª edição do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima (OC), lançada nesta segunda-feira (3).
O resultado é atribuído ao impacto da retomada do controle do desmatamento pelo governo federal. As chamadas emissões líquidas, que descontam a remoção de carbono por florestas secundárias e áreas protegidas, tiveram uma queda ainda maior: 22% (1,489 GtCO₂e líquidas em 2024, contra 1,920 CO₂e em 2023).
O resultado positivo vem em boa hora para o anfitrião da COP30, que tem início no próximo dia 10 de novembro, em Belém, na opinião de Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
“Dificilmente teremos dentro do G20 – países mais ricos – ou dentro dos dez maiores emissores, países chegando na COP30 com um número de redução total das suas emissões, tal qual esse número que a gente está apresentando agora”, disse Astrini à Agência Brasil.
O impacto da queda do desmate foi tão significativo que alterou a matriz de emissões líquidas do país.
Descontadas as remoções por áreas protegidas e florestas secundárias, as emissões líquidas por mudança de uso da terra tiveram uma queda brutal: 64% – a maior redução da história. Elas caíram de 685 milhões para 249 milhões de toneladas de CO₂ equivalente em 2024 em relação a 2023. Por conta dessa redução, o setor de mudança de uso da terra deixou de ser a principal fonte de emissões líquidas do Brasil, caindo de 35% para 17% do total. Agropecuária (de 33% para 42%) se torna a maior. Energia sobe de 22% para 29%, e processos industriais e resíduos sobem ambos de 5% para 6%.
Mesmo com a queda em 2024, a projeção do SEEG para o fim de 2025 indica que o Brasil ficará aquém da meta da NDC (limite de 1,32 bilhão de toneladas líquidas). O país deve chegar ao final do ano com 1,44 GtCO₂e líquidas, número 9% maior que a meta estipulada.
“O desmatamento cai, mas todos os outros setores sobem”, afirma David Tsai, coordenador do SEEG. “Estamos falando de uma projeção, mas o número indica que o Brasil ainda está fora da sua meta de clima. Toda a mitigação fica nas costas do combate ao desmatamento, e isso precisa mudar.”
Desmatamento e setores da economia
A variação das emissões do Brasil responde diretamente ao que acontece na vegetação nativa. Em 2024, a queda do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, na esteira de ações do Ibama, provocou a maior redução da história nas emissões por mudança de uso da terra: 32,5%. As emissões brutas desse setor caíram de 1,341 GtCO₂e para 906 GtCO₂e.
Com isso, o setor de mudança de uso da terra continua sendo o maior emissor, respondendo por 42% da “pizza” das emissões nacionais em 2024 (contra 52% no ano anterior).
Nos outros setores da economia, as emissões ficaram estáveis ou subiram:
- Agropecuária: queda de 0,7% (29% do total).
- Energia: alta de 0,8% (20% do total).
- Processos Industriais: alta de 2,8% (4% do total).
- Resíduos: alta de 3,6% (5% do total).

Pecuária e ranking global
Mesmo com a queda no desmatamento, as mudanças de uso da terra fazem do Brasil o quinto maior emissor de GEE do planeta (sexto, se a União Europeia for considerada como bloco). O Brasil emite mais carbono bruto somente por desmatamento que toda a Arábia Saudita e todo o Canadá.
A pecuária é de longe a atividade econômica mais emissora do Brasil, com 51% das emissões totais, ou 1,1 GtCO₂e. Se fosse um país, o boi brasileiro seria o sétimo maior emissor do mundo. No total, a agropecuária, incluindo o desmatamento, responde por dois terços das emissões do Brasil.
As emissões da agropecuária tiveram uma discreta oscilação para baixo de 0,7%, ficando estáveis. A principal fonte é a fermentação entérica (arroto do boi, com 65% das emissões do setor). Já as emissões do setor de energia tiveram uma pequena alta de quase 1%, controlada, sobretudo, pelo etanol.
O Brasil também ficou mais próximo da média mundial de emissões per capita. Em 2024, cada brasileiro emitiu 10,5 toneladas brutas de CO₂e(7,2 toneladas líquidas), contra uma média mundial de 6,4 toneladas. Excluindo as mudanças de uso da terra, o Brasil fica com 6 toneladas per capita, exatamente na média global.
Desempenho nos biomas e alerta sobre o fogo
Todos os biomas brasileiros registraram redução expressiva nas emissões brutas por desmatamento em 2024, exceto o Pampa (alta de 6%).
- Pantanal: queda de 66% (após ações de controle reforçadas).
- Cerrado: queda de 41% (207 MtCO₂e).
- Amazônia: queda de 33% (525 MtCO₂e).
- Mata Atlântica e Caatinga permaneceram estáveis.
O que chamou a atenção do SEEG foi o fato de o desmatamento cair no mesmo ano em que o Brasil registrou a maior área queimada de sua história, devido à estiagem severa.
As emissões por queimadas não relacionadas ao desmatamento (241 MtCO₂e) são basicamente equivalentes a todas as emissões líquidas por mudança de uso da terra (249 MtCO₂e), ou seja, o fogo duplicaria as emissões líquidas por desmatamento se fosse contabilizado, sinalizando que a mudança do clima já pode estar interferindo perigosamente nas florestas.


