A exatos 18 dias da COP30, o presidente da Conferência do Clima em Belém, o embaixador André Aranha Corrêa do Lago, divulgou, nesta quinta-feira (23), sua oitava carta à comunidade internacional, desta vez focada no tema da adaptação climática. O diplomata defende que, na “era das consequências”, a adaptação “deixou de ser uma escolha que sucede a mitigação; ela é a primeira parte de nossa sobrevivência”.
Durante coletiva de imprensa, Corrêa do Lago afirmou que espera que a carta seja recebida com a força que a adaptação merece.
Para a diretora executiva da COP30, Ana Toni, priorizar discussões em torno da adaptação, mostra que ela é muito mais que um tema de negociação. “É direcionamento, uma bússola moral e econômica”, afirmou.
O texto convida a refletir sobre a adaptação sob “novas lentes: como o próximo passo da evolução humana”. Para o embaixador, a denominada ‘COP da Adaptação’ será crucial para avançar em três frentes: “fortalecer o multilateralismo”, “aproximar o regime climático da vida cotidiana das pessoas” e “acelerar a implementação climática”.
Corrêa do Lago enfatiza que a adaptação é um imperativo moral e econômico, rebatendo a lógica que ele classifica como um “precedente perigoso na evolução humana”:
“Em minha primeira carta, mencionei que estamos ingressando em uma era perigosa, na qual os ricos – tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento – se isolam atrás de muros resilientes ao clima, enquanto os pobres permanecem expostos. Um futuro assim deve ser rejeitado de imediato.”
O diplomata aponta o custo da inação, citando dados do Índice Global de Pobreza Multidimensional, de 2025, que revelam que 887 milhões de pessoas em pobreza extrema já enfrentam “ao menos um grande risco climático”. Ele usa o termo “necropolítica” para denunciar a lógica que decide quais vidas são protegidas, lembrando que “a inação não representa uma falha técnica, mas sim uma escolha política sobre quem vive e quem morre”.
A adaptação é igualmente vital para as economias. O texto afirma que desastres climáticos já custam à África “entre 2% e 5% do PIB a cada ano”. Por outro lado, o Banco Mundial estima que medidas robustas de adaptação podem gerar “até quatro vezes o seu custo em benefícios econômicos”, o que exige que o financiamento seja visto “não apenas como assistência”.
Falha crônica no financiamento
Apesar do reconhecimento, o presidente da COP30 critica o desequilíbrio no financiamento climático:
“Apesar de compromissos sucessivos, o financiamento para adaptação ainda representa menos de um terço do total do financiamento climático, muito aquém das necessidades.”
Ele defende que o financiamento precisa ir “além de dobrar, podendo até triplicar, para atender às necessidades urgentes”, com subsídios e empréstimos concessionais, especialmente para os PEIDs (Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento) e LDCs (Países Menos Desenvolvidos). O texto também estimula abordagens inovadoras, como “títulos de resiliência soberanos e subnacionais” e “trocas de dívida por resiliência” para atrair o setor privado.
O papel da COP30
A COP30 deve ser um ponto de virada, aproveitando o momento em que, segundo relatório recente do secretariado da UNFCCC, os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) estão “em plena execução”, com 67 países em desenvolvimento já tendo submetido seus planos.
As prioridades de Belém incluem:
- Concluir a avaliação do progresso dos NAPs e definir os próximos passos.
- Avançar no Mapa do Caminho de Baku para Adaptação (BAR).
- Esclarecer como “coletivamente fechar a lacuna de financiamento para adaptação”.
- Operacionalizar o Objetivo Global de Adaptação (GGA) com indicadores concretos.
O presidente da COP30 encerra o texto reforçando que ministros da Fazenda e bancos de desenvolvimento devem tratar a adaptação como “um instrumento central de política, não como caridade”. A conferência, que acontece no “epicentro da crise climática”, deve transformar a “vulnerabilidade em solidariedade, cooperação em resiliência e adaptação em evolução”.
Outros temas
Durante a coletiva, Correa do Lago afirmou que o países em desenvolvimento terão aporte para financiar a hospedagem durante a COP30, em Belém.
A verba será usada para custear “três quartos para cada um dos países que estão na lista daqueles em menor desenvolvimento relativo (LDCs), para as pequenas nações ilhas (SIDSs) e para o conjunto de países africanos”, disse o diplomata. De acordo com ele, este novo apoio se junta a do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) que já havia oferecido ajuda a delegados latino-americanos e do Caribe.
“Eu acho que isso vai ser uma coisa determinante para ter uma taxa de presença na COP próxima a de todos os membros da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC)”, afirmou.