A estrada para chegar ao distrito de Alter do Chão passa por diversas comunidades que sobrevivem do Turismo de Base Comunitária (TBC). A atividade proporciona imersão em práticas de sustentabilidade e costumes de povos centenários, atraindo a atenção de quem procura as praias do ‘Caribe brasileiro’ e de quem está em busca de novas perspectivas de produção sustentável.
A 7 km de Santarém, pela PA-457, encontra-se a comunidade de Cucurunã. No coração da localidade, um viveiro comunitário de plantas medicinais e alimentícias é o alicerce da Bionama. A empresa transforma bioativos da floresta em biocosméticos e bioalimentos, com produção baseada em conhecimento científico e rastreabilidade total da cadeia produtiva.
Josiane Almeida, uma das fundadoras da empresa, conta que a ideia nasceu após conversas e desabafos com um amigo, Gabriel Ranieri. Ele possui experiência em setores do empreendedorismo e ela, atuando como pesquisadora, nutria uma frustração por não ver suas pesquisas saindo dos laboratórios e ganhando vida, gerando impacto real na vida das pessoas.
“Dessa inquietação surgiu um propósito comum: transformar o conhecimento científico em produtos que valorizassem a região amazônica e, ao mesmo tempo, devolvessem à população um alimento de qualidade”, relembra.
A união de forças fez surgir a primeira iniciativa da dupla: um viveiro comunitário de plantas medicinais e alimentícias em Cucurunã, conhecida pela sua produção de farinha de mandioca e derivados como o tucupi, beiju cica, beiju mole e a farinha de tapioca. Josiane conta que o viveiro virou um marcador especial na história da comunidade, um “verdadeiro laboratório vivo de práticas sustentáveis, inovação social e geração de renda”, diz.
Renda justa e visibilidade
Os principais insumos para óleos essenciais, cremes de massagem e até de um brownie proteico com crocante de castanha do Pará, entre outros produtos, vêm do viveiro comunitário de Cucurunã, considerado a base do projeto, funcionando como um espaço de aprendizado e de trabalho coletivo.

As famílias envolvidas recebem renda justa e capacitação em boas práticas de cultivo e beneficiamento. Dessa forma, elas se tornam parte ativa de uma cadeia produtiva que valoriza o território e o conhecimento local.
“O benefício vai além do financeiro: há um sentimento de pertencimento e orgulho em ver que a biodiversidade da Amazônia pode se transformar em produtos de qualidade, gerados dentro da própria comunidade e pensados para chegar ao mercado”, destaca Josiane, revelando que um dos objetivos da iniciativa é replicar as ideias desenvolvidas em Cucurunã dentro de outras comunidades, para ampliar a rede de impacto e criar outras oportunidades de trabalho e renda.

Parcerias
A cofundadora destaca duas parcerias principais para ‘dar forma’ ao sonho: a comunidade de Curucunã e a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), gerando colaboração científica e produtiva entre a comunidade e o ambiente acadêmico.
“A iniciativa envolve diretamente três pessoas da comunidade do Cucurunã e suas famílias, que participam ativamente do manejo e do viveiro, fortalecendo vínculos comunitários, dando visibilidade ao conhecimento tradicional e trazendo novas perspectivas de futuro para quem vive no território. Além disso, contamos com uma parceria próxima à UFOPA. Essa relação é construída em trocas muito ricas: nós levamos os desafios reais do dia a dia — como padronização de insumos, cultivo e aproveitamento de espécies amazônicas — e a universidade contribui com suporte técnico, pesquisas, análises laboratoriais e formação de estudantes”, explica, frisando o fortalecimento comunitário e acadêmico como fruto da atuação conjunta.
Uma experiência recente foi a participação no programa Floresta+, que apoia iniciativas sustentáveis no Pará. Segundo Josiane, a iniciativa recebeu apoio técnico para melhorar a rastreabilidade e a governança socioambiental, além de orientações para ampliar seu impacto na comunidade e na conservação da floresta.
No entanto, ela destaca que o principal resultado do projeto foi o fortalecimento da autoestima dos participantes da cadeia produtiva da Bionama.
“O Floresta+ nos mostrou que iniciativas nascidas em comunidades amazônicas podem, sim, ganhar escala e reconhecimento. Para nós, foi um incentivo enorme para seguir firmes, com a certeza de que estamos no caminho certo ao unir ciência, comunidade e sustentabilidade em um mesmo propósito”, celebra.
Os produtos desenvolvidos estão em fase de validação e certificação junto aos órgãos do setor, mas a expectativa é de iniciar as vendas já em 2026. Além de começar com todas as certificações necessárias, outra oportunidade se desenha com a possibilidade de participação na COP30, em Belém.
“Acreditamos que levar essa experiência para um evento do porte da COP30 ajuda a mostrar que soluções de impacto não nascem apenas em grandes centros, mas também em comunidades da Amazônia que unem ciência, tradição e empreendedorismo”, diz.
