Um estudo publicado na revista Nature conecta diretamente as emissões das 180 maiores empresas de combustíveis fósseis e cimento do mundo (chamadas “carbon majors”) a 213 ondas de calor registradas entre 2000 e 2023, que se tornaram mais prováveis e mais intensas devido às mudanças climáticas. A pesquisa foi aclamada como um salto na batalha para responsabilizar judicialmente petrolíferas e outros grandes emissores pelos danos causados pela crise climática.
O estudo é o primeiro a avaliar o impacto histórico das mudanças climáticas em uma grande série de ondas de calor. O levantamento mostra que as 14 maiores empresas de petróleo e gás fóssil do mundo – grupo que inclui a estadunidense Exxon Mobil, a saudita Saudi Aramco, a russa Gazprom e a brasileira Petrobras – desempenharam, por si só, um papel ativo em mais de 50 ondas de calor que, de outra forma, teriam sido quase impossíveis. Na prática, foram essas emissões que causaram as ondas de calor, de acordo com a pesquisa.
O estudo descobriu que, em comparação com as temperaturas anteriores à Revolução Industrial, as mudanças climáticas aumentaram a intensidade média das ondas de calor em 1,68°C entre 2010 e 2019, dos quais 0,47°C são atribuídos exclusivamente às 14 maiores empresas de combustíveis fósseis. As outras 166 “carbon majors” contribuíram com 0,38°C para o aumento da intensidade média das ondas de calor no mesmo período.
Enquanto estudos anteriores analisaram principalmente as emissões de regiões e países, este se concentra nos principais emissores de carbono.
“Ser capaz de rastrear a contribuição desses grandes emissores individuais e quantificar sua contribuição pode ser muito útil para estabelecer responsabilidades”, ressaltou a professora Sonia Seneviratne, da Universidade ETH Zurich, na Suíça, uma das autoras do relatório.
A atual pesquisa e outras mais recentes surgem em um momento em que o número de processos judiciais climáticos contra poluidores aumentou nos últimos anos. No entanto, cidadãos, comunidades e Estados que buscam justiça frequentemente enfrentam dificuldades para provar seus argumentos em juízo.
“Esta pesquisa é um passo importante em direção à responsabilização”, ressaltou Friederike Otto, professora de ciência climática no Imperial College London e uma das fundadoras da World Weather Attribution (WWA), rede global de cientistas focada na análise das mudanças climáticas.