Uma pesquisa realizada por cientistas de oito países da Bacia Amazônica, incluindo o Brasil, revelou o papel fundamental das terras indígenas na saúde humana. O estudo, publicado na revista científica Communications Earth & Environment, do grupo Nature, demonstrou que a preservação da natureza nesses territórios tem um impacto direto e positivo na saúde, indo muito além de benefícios ao meio ambiente.
A bióloga e pesquisadora Paula Priest, da Organização Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), explicou que a pesquisa, financiada pela Fundação Ford, buscou entender se os benefícios das terras indígenas se estendiam à saúde humana, assim como já é comprovado para o estoque de carbono e a conservação da biodiversidade.
“O foco, inicialmente, era apenas na Amazônia brasileira e nas doenças relacionadas a incêndios. E então estendemos para uma segunda fase, para compreender se os efeitos se mantinham quando olhávamos para o bioma inteiro e outros aspectos da saúde humana”, disse à Folha, Paula Priest, bióloga e pesquisadora da Organização Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Queimadas e seus impactos na saúde
O estudo analisou dados de 2001 a 2019 e identificou uma ligação direta entre as queimadas e a saúde da população. Os pesquisadores registraram mais de 28 milhões de casos de doenças associadas a incêndios e vetores nos países da Bacia Amazônica.
Entre 2001 e 2019, a Amazônia perdeu mais de 532 mil km² para o fogo. O Brasil foi o país com a maior área queimada, seguido por Bolívia e Colômbia. No entanto, o estudo apontou que a grande maioria (88,7%) dos incêndios ocorreu fora das terras indígenas, reforçando a sua eficácia como barreiras de proteção.
A importância da proteção dos territórios indígenas
Segundo Paula Priest, o estudo traz uma evidência robusta de que o manejo sustentável praticado pelos povos tradicionais fornece um serviço que beneficia a saúde de populações que não estão necessariamente perto desses territórios.
“As terras sob proteção indígena conseguem estocar uma quantidade alta de carbono e conservar mais biodiversidade do que outras terras protegidas. E nós nos perguntamos se para a saúde humana seria o mesmo”, disse a pesquisadora.
A pesquisa conclui que a proteção e o reconhecimento das terras indígenas são cruciais para a saúde pública, pois elas atuam como escudos contra a destruição ambiental e, consequentemente, contra as doenças associadas a ela.