Um novo estudo, publicado na revista Nature Communications por uma equipe de cientistas do Brasil, da Alemanha e da Suíça, alerta para a relação direta entre a Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (Amoc) e a Amazônia. A Amoc é um dos principais “motores” do clima terrestre, funcionando como uma esteira oceânica que transporta calor e nutrientes e está intrinsecamente ligada ao regime de chuvas da floresta.
De acordo com a Agência Fapesp, a pesquisa aponta que, nos últimos 6.500 anos, a Amoc se manteve estável. No entanto, as mudanças climáticas causadas pela ação humana podem levar a um enfraquecimento sem precedentes dessa circulação. O professor da Universidade de São Paulo (USP) e coautor do estudo, Cristiano Mazur Chiessi, explica que a consequência mais grave desse enfraquecimento seria a “marcante diminuição das chuvas no norte da Amazônia, justamente a região mais preservada da floresta”.
“Projetamos uma marcante diminuição das chuvas no norte da Amazônia, justamente a região mais preservada da floresta. Esse efeito poderá ocorrer porque as chuvas equatoriais tenderão a se deslocar para o sul com o enfraquecimento da circulação do Atlântico. Com isso, o norte da Amazônia, abrangendo áreas do Brasil, da Colômbia, da Venezuela e das Guianas, poderá enfrentar reduções significativas na pluviosidade”, projeta Chiessi.
O pesquisador enfatiza que a gravidade desse cenário é ainda maior porque se trata da porção mais preservada da floresta. Diferentemente do sul e do leste amazônicos, onde o desmatamento e a degradação já avançaram fortemente, o norte tem funcionado como um “porto seguro” de biodiversidade.
“É justamente nessa região, até agora menos impactada, que a mudança climática poderá impor uma vulnerabilidade nova e dramática”, observa.
Estudos anteriores já haviam mostrado que o enfraquecimento da Amoc, no passado, levou à expansão de vegetação sazonal em detrimento das florestas úmidas. As projeções atuais indicam que um enfraquecimento futuro teria impactos ainda maiores, agravados pelo desmatamento e pelas queimadas em outras partes da bacia.
Urgência em agir
Há consenso entre os cientistas de que o enfraquecimento é uma clara tendência, mas a urgência de agir é inegociável. Segundo Chiessi, os dados atuais, com monitoramento direto iniciado apenas em 2004, ainda são insuficientes para uma resposta conclusiva.
“Ainda existe tempo, mas nossas ações precisam ser robustas, rápidas e conectadas, envolvendo governos e sociedade civil”, alerta Chiessi.