Relatório da ONU aponta que as secas mais recentes vêm causando uma devastação sem precedentes em várias partes do mundo. O estudo também alerta que o avanço do desmatamento e dos incêndios na Amazônia pode inverter seu papel no equilíbrio climático, fazendo com que a floresta deixe de absorver dióxido de carbono e passe a emitir grandes volumes de gases de efeito estufa. Segundo especialistas, essa mudança agrava significativamente a crise climática global.
“Em todo o mundo, alguns dos eventos de seca mais generalizados e prejudiciais da história registrada ocorreram nos últimos anos devido às mudanças climáticas e ao esgotamento de recursos”, afirma o relatório
O documento da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês)), do Centro Nacional de Mitigação da Seca dos EUA (NDMC, na sigla em inglês) e da Aliança Internacional para a Resiliência à Seca, divulgado na última segunda-feira, 21, cita diversos estudos de cientistas e matérias sobre o tema.
Entre as áreas mais impactadas pela seca em 2023 e 2024 estão a Bacia Amazônica, o sul e leste da África, o Mediterrâneo, o Panamá, o México e o sudeste da Ásia.
Impactos devastadores
A pesquisa revela que níveis históricos dos rios na Bacia Amazônica em 2023 e 2024 causaram morte em massa de peixes e golfinhos ameaçados, interromperam o fornecimento de água potável e prejudicaram o transporte de centenas de milhares de moradores locais.
No Mediterrâneo, as projeções climáticas indicam aumento de 2 a 3 °C nas temperaturas até 2050 e de 3 a 5 °C até o final do século. A escassez de água deve se agravar, com previsão de redução entre 2% e 15% na disponibilidade hídrica a cada 2 °C de aquecimento. Regiões como Sicília, Chipre, Marrocos, Argélia, Tunísia, sul da Espanha e Portugal, além de áreas da Síria e do sul da Turquia, devem se tornar mais áridas, com avanço de características desérticas.
Na Turquia, país de clima semiárido, o relatório alerta que 88% do território enfrenta risco de desertificação. Já na Espanha, caso as tendências de aquecimento observadas entre 1973 e 2022 persistam, a expectativa é de uma queda de 14% a 20% na precipitação até 2050, em relação à média registrada entre 2000 e 2022.
Ainda segundo o relatório, “uma redução tão drástica faria com que partes do clima da Espanha mudassem de mediterrâneo para estepe quente, conforme definido pelo sistema de classificação de Koppen”. Em 2023, aproximadamente 60% das terras agricultáveis da Espanha enfrentavam condições de seca.
Mesmo em um país desenvolvido como a Espanha, apenas 25% das cidades com mais de 20 mil habitantes possuem planos para enfrentar a seca.
Embora o fenômeno El Niño tenha oficialmente terminado em maio de 2024, seus efeitos continuam impactando regiões que vão do sul e leste da África à Bacia Amazônica e ao sudeste da Ásia, segundo a ONU.
O relatório alerta que, sem uma redução expressiva nas emissões de gases de efeito estufa, o aquecimento global provocará secas mais frequentes e severas, causadas pelo aumento do calor, da evaporação e pela alteração dos padrões de chuva. “A vulnerabilidade das sociedades à seca e sua resiliência aos impactos dependerão de sua capacidade de fortalecer os ecossistemas, implementar mudanças na gestão da água e garantir o acesso equitativo aos recursos”, acrescenta.
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