O Brasil é o segundo país com maior extensão de manguezais. São cerca de 14 mil km² ao longo da costa, dos quais 80% estão concentrados nos estados do Maranhão, Pará e Amapá. Essenciais para a reprodução da vida, a preservação da biodiversidade e a absorção de CO2 da atmosfera, esse ecossistema é preservado por ações em conjunto entre comunidades extrativistas e pesquisadores em municípios da região bragantina.
O projeto Mangues da Amazônia é realizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) nas reservas extrativistas (Resex) de Tracuateua; Caeté-Taperaçu; Araí-Peroba e Gurupi-Piriá, localizadas nos municípios de Tracuateua, Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, respectivamente. Cobrindo uma área de aproximadamente 120 mil campos de futebol, o trabalho promove o monitoramento dos territórios, a identificação de espécies e o reflorestamento de locais atingidos pelo corte de madeira.
O professor e coordenador-geral do projeto Mangues da Amazônia, Marcus Fernandes, diz que a extração de madeira não é ilegal nas Resex, mas a retirada deve ser autorizada pelo ICMBio. Ainda assim, os territórios enfrentam problemas com a extração em áreas não declaradas e, por isso, é preciso monitorar e identificar os locais vulneráveis.

“A gente vai na comunidade, mostra o mapa da região e pergunta onde está ocorrendo corte de madeira. Eles indicam no mapa. A gente visita cada um dos lugares para fazer o georreferenciamento. Tudo é checado e validado, e a gente produz mapas, a partir do mapeamento participativo”, explicou o professor à Agência Brasil.
Os manguezais são áreas úmidas que estão entre o mar e a terra firme. Nessas regiões é grande a diversidade de vegetais e animais que são resistentes ao fluxo das marés e ao sal, mas que correm riscos, principalmente devido ao avanço das mudanças climáticas. Com a alteração do clima e no nível do mar, as condições de vida nos mangues podem ser comprometidas.
“Se você tem redução nas chuvas, as áreas que se beneficiam dessa condição de alagado para funcionar como sumidouro começam a perder essa função. O solo começa a ser aerado, o oxigênio começa a entrar mais para esse solo, e o processo de decomposição começa a jogar mais gás carbônico para fora”, comenta o professor Hudson Silva que é responsável pelo monitoramento das emissões dos gases no projeto Mangues da Amazônia.

De acordo com o especialista, os impactos já fazem parte da vida nas Resex, onde o volume de chuvas que antes chegava a 3 mil milímetros (mm) por ano, agora é de 2 mil mm. Com isso, não só os mangues ficam mais ameaçados, mas também as regiões próximas, já que os locais ficam mais vulneráveis ao avanço do mar e ao alagamento de regiões costeiras.
Outro problema é que as mudanças podem interferir na capacidade dos mangues atuarem como sumidouros de carbono, isto é, de absorver mais carbono do que emitem. Segundo estimativas do projeto, os manguezais da região armazenam 600 toneladas de carbono por hectare.
“A região amazônica tem um estoque enorme de carbono, então, se a gente corta ou perde esse ambiente, a gente vai jogar isso para fora. É como se você liberasse uma bomba de carbono para o ambiente”, alerta Hudson Silva.
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