O Brasil tem um passivo ambiental de mais de 32 milhões de hectares de áreas degradadas por pastagens e passíveis de restauração. Com benefícios em produtividade, sustentabilidade e geração de renda, a restauração florestal pode ocorrer de diversas formas e ter um papel central no avanço da bioeconomia na Amazônia.
Um estudo da Aliança pela Restauração da Amazônia mostra que a bioeconomia gera atualmente R$ 12 bilhões na região e, com investimentos adicionais, poderá movimentar R$ 38,6 bilhões em 2050, criando 833 mil novos empregos que substituiriam postos ligados à destruição da floresta.
“É uma forma de garantir diversificação de produtos, segurança de receita e ganhos ambientais nas propriedades rurais [como proteção de nascentes e microclima]”, afirmou Rafael Barbieri, economista do WRI Brasil, em entrevista ao Valor Econômico.
O potencial da restauração florestal no atual contexto da bioeconomia da região já vem sendo aproveitado por iniciativas nos diferentes estados. O Pará, por exemplo, fez a primeira concessão de terras públicas degradadas para a iniciativa privada. Serão mais de R$ 250 milhões investidos na recuperação da APA Triunfo do Xingu ao longo de 40 anos, um negócio que deve gerar em torno de R$ 869 milhões com créditos de carbono.
Outra forma de transformar a dinâmica da economia favorecendo a conservação e não a destruição é com os sistemas agroflorestais (SAFs). De acordo com o Plano Estratégico para a Implementação do Código Florestal (PlanaFlor), o país tem cerca de 20 milhões de hectares são pastagens improdutivas que podem ser convertidas em agroflorestas, que é um modelo produtivo que combina o cultivo de diferentes espécies agrícolas com espécies florestais.
Em Rio Preto da Eva (AM), a startup Genera comprou 400 hectares para investir na restauração produtiva de áreas degradadas com SAFs. No local é possível encontrar cacau, açaí e outros produtos que podem ser comercializados, mas também outras árvores que ajudam na recomposição da floresta nativa.
“Em cenário de terra farta, a expansão dessa fronteira é comparável ao início do agro, com a diferença de que agora vamos replantar o que foi destruído”, diz o CEO Thiago Terada, que tem a meta de restaurar 50 mil hectares em 10 anos.
O potencial é grande, mas o Brasil ainda faz pouco para aproveitá-lo, segundo análise do diretor executivo do Instituto Escolhas, Sérgio Leitão. Há dez anos, o país assumiu a meta climática de restaurar 12 milhões de hectares de floresta até 2030, mas avançou pouco porque ainda falta recurso para fomentar atividades mais sustentáveis. O valor necessário para atingir a meta, de acordo com o estudo, é da ordem de R$ 228 milhões.
“A bioeconomia não acontecerá se não tiver o mesmo que o agronegócio para virar potência”, afirma Sérgio Leitão.
Na dianteira da busca por fomento está o Pará que conta com a primeira política estadual de apoio ao setor. Já são cerca de R$ 1,8 bilhão de investimentos climáticos já negociados ou com potencial de captação nos próximos cinco anos.
Desse total, R$ 400 milhões têm potencial para custear atividades produtivas da bioeconomia, além de R$ 320 milhões de estímulo via Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Com isso, o Pará pode aumentar seu Produto Interno Bruto (PIB) em R$ 816 milhões nos próximos anos.