A forte estiagem que atinge o oeste paraense se intensifica a cada dia e amplia os impactos sobre as populações e atividades essenciais para a região. Com situação de escassez hídrica decretada, o recuo no nível do Rio Tapajós configura uma situação de calamidade pública, como analisa o coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria (PSA), Caetano Scannavino.
Em entrevista ao Globo Rural, Scannavino diz que o cenário na região é tão dramático quanto o que ocorreu com as enchentes no Rio Grande do Sul. A diferença, segundo ele, é que a tragédia da seca não está recebendo a mesma atenção nem mobilização social.
“Na prática, as regiões mais afetadas já têm comunidades isoladas em que não é possível chegar nem de barco e nem de canoa. O transporte escolar foi comprometido, a remoção de pacientes médicos, o abastecimento de água e a própria segurança alimentar”, comenta.
Com mais de 30 anos de atuação na Amazônia, o coordenador do PSA afirma que nunca viu um período tão seco e a tendência é piorar, já que a atual estação costuma durar até novembro. De acordo com a Defesa Civil de Santarém, o Rio Tapajós registrou a cota de 64 cm na semana passada, abaixo do nível do ano passado em 1,38 metro.
“É uma situação inédita e a preocupação é grande porque o Tapajós segue baixando rápido e em níveis piores do que o registrado no ano passado, quando enfrentamos a pior seca da história”, ressalta.
A estiagem já provoca também redução no fluxo de embarcações e inviabiliza o transporte de cargas pela região. Segundo a Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport), os comboios precisam de pelo menos 2,20 metros de lâmina d’água nos pontos mais rasos do rio para navegar, no entanto a queda no volume de água persiste e faz com que mais cargas sejam transportadas pelas rodovias.