Por Tereza Coelho
A partir de 1º de janeiro de 2026, apenas bovinos e bubalinos identificados com brincos (de forma eletrônica e visual) e com a regularização da Guia de Trânsito Animal (GTA) em dia poderão circular no Pará. O ‘fim de ciclo’ faz parte do cronograma do Sistema de Rastreabilidade Bovídea do Pará (SRBIPA), que pretende ter o gado do estado completamente rastreado até 2027.
Apenas em 2025, o SRBIPA já fez sua primeira exportação de carne rastreada e duas entregas ao varejo, mas planeja assumir a liderança nacional em carne limpa a partir de 2027. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Sistema Faepa), há mais de mais de 500 mil produtores rurais no estado, que também abriga o segundo maior rebanho do País, com 26 milhões de cabeças de gado.
Com tantas novidades ao mesmo tempo, como o setor avalia as mudanças em curso e a ‘”contagem regressiva” para sua entrada em vigor?
Guilherme Minssen, zootecnista e diretor da Faepa, diz que embora o SRBIPA seja um passo importante para todo o estado, a realidade da adesão esbarra nas dificuldades que os produtores rurais dos 144 municípios paraenses enfrentam no dia a dia.
“Onde a atividade pecuária é mais forte, os produtores estão naturalmente mais engajados, diferente das regiões onde eles enfrentam mais dificuldades, principalmente de logística. Para esses vai existir muitas dúvidas, desconfianças e até uma rejeição de cara”, diz.
Minssen afirma que existe uma dificuldade ‘estrutural’ no atendimento de órgãos do setor, principalmente aqueles voltados à extensão rural, a algumas regiões do estado, como o Arquipélago do Marajó e em partes do oeste e centro-oeste paraenses.
“Alguns produtores não conseguem fazer o básico pela falta de logística, infraestrutura. Em momentos como esse, tudo vira um grande obstáculo, porque o produtor só ouve falar em mais e mais regras, aí ele pensa que vai ser mais difícil ainda sobreviver. Ainda ouvimos aquela pergunta básica: o que eu vou ganhar com isso?”, declara.
Expectativa x Realidade
Na lista de problemas estruturais, Minssen aponta gargalos em logística, assistência rural e fiscalização nos municípios. Segundo ele, esses problemas atrapalham o andamento de projetos públicos, privados e minam a confiança do produtor.
Ao detalhar os exemplos citados, ele destaca o gargalo fundiário por limitar os investimentos que chegam aos produtores, já que as resoluções necessárias dependem das esferas municipais, estadual e federal.
“Temos um problema grave com insegurança jurídica, principalmente na regularização fundiária. Não há um dado fechado, mas se fala nos corredores que 20% a 30% da área paraense ainda precisa ser demarcada, o que é muita coisa”, conta.
Para ele, esses entraves comprometem o cumprimento dos prazos propostos, que podem sofrer atrasos e comprometer a adesão em algumas regiões do estado.
“Se na mesma região temos pessoas com realidades diferentes, que dirá dentro do estado como um todo. Nós queremos que o programa avance, mas precisamos ser realistas e vencer esses obstáculos”, diz.


